Um texto de Miguel Real no JL (Os
dias da Prosa). É sobre experimentalismo literário e Mário Cláudio, o autor que se segue na fila de espera cá de casa,
desta feita, «Retrato de Rapaz».
Os livros que a gente gosta, penso. Agente é da polícia, interpelação crítica que acompanhava um desvio
do olhar, um certo desprezo por quem a utilizava, um crime que nem pensar em
cometer.
Mais tarde estudámos a norma,
depois de já termos aprendido, na primária, as regras que se impunham. Vírgula,
nunca depois da conjunção «e». Aposto ou continuado, entre vírgulas. Nunca
utilizar a vírgula entre sujeito e predicado. E a isso éramos obrigados.
Tive uma professora de desenho que gostaria de
ver normalizada a forma como usávamos as cores. Anos depois, lembro-me de uma criança
da família que na primária decidiu pintar uma fruta de determinada cor ou não-cor.
– Uma pera? Preta? A criança ficou para sempre marcada – As peras tinham que
ser verdes? E as pessoas pretas poderiam ser verdes? Perguntava-se ele. Que, à educadora,
nem pensar- magíster dixit.
Aceito que se deva aprender a norma.
Mas sobretudo, o que interessa – no
domínio a que poderemos (ou não) chamar “arte” – é a capacidade de transgredir,
o que muitíssimas vezes eleva o quociente de aproximação ao objecto artístico .
Entre os receptores haverá quem o aprecie, ou não. Quem o entenda, ou não. Quem
se deleite com cores e formas inimagináveis, ou não. Quem queira continuar a
ler, ou não.
Prefiro pensar que o ritmo de
cada alma tem de ficar impresso na pedra, sejam vírgulas respiratórias,
pausadas ou em corrupio, sejam homens marcados a fogo nas velhíssimas cavernas.
Não acredito que a arte se conquiste aliada ao pre - conceito (sim, com hífen) - agora decido inovar. É claro
que se eu encontrar neste hífen um
significado que me transporte para perto de si, leitor, vou usá-lo sempre que
essa necessidade se imponha. Terá sido isto que Miguel Real considera ter Mário
Cláudio usado «com intenção»? Experimentalismo literário?
- Há que descobrir
novos caminhos, proibidos ou não.
Quanto a «estilo inovador», logo se vê. «Logo» é o
futuro. Talvez fizesse mais sentido chamar-lhe um «estilo pessoal». Mas os
peritos são os peritos, estudaram, meditaram, concluíram. Por mim , gosto de
mergulhar na dúvida de leituras independentes e as fontes que prefiro são estas lentes de ler. Hoje li: «Mas se há um progresso na arte de escrever, ele deriva de um solitário voto de castidade talvez. » Agustina, Jóia de Família.
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