O espectáculo que Ricardo Pais
apresenta no Teatro Joaquim Benite Turismo
Infinito, um dos mais belos a que
assisti nos últimos tempos. Pessoa e as palavras, num espaço de perspectiva tão
longe e tão perto, fraca expressão, a que encontro para caracterizar um cenário
de luz que ora cria em nós a miragem de olhar as palavras num mundo infinito, ora num
outro, tão linear quanto estas nossas vidas, de ecrã plano ou de folha negra
riscada a branco.
“Protejam-se contra a tortura da
beleza”, diz Lídia Jorge no Prefácio de “Laços de Família” de Clarice Lispector
e é o que se sente neste Infinito,
bonito demais, tão belo que podes até chorar, mas não por ser triste. Tal como
em Lispector, a quem Lídia Jorge chama “parente legítima de Pessoa”.
Será
por o mundo estar cinzento, que me acontecem estes encontros improváveis, esta
aparente dispersão, como se em múltiplas janelas procurássemos a paisagem que
nos faz falta.
“Clarice Lispector uma das raras
escritas da qual se sai diferente quando uma vez lá se entrou, como se ela
mesma fosse e contivesse em si a oferta de uma revelação surpreendente e por
vezes devastadora”, afirma Lídia Jorge e eu penso em Saramago. Tudo por acaso,
sucede estar a reler o "Evangelho Segundo Jesus Cristo", a olhar Maria mãe de
Jesus, pelos olhos de Saramago, e a pensar, que sorte, ser mulher. E que deus, na sua
infinita bondade tenha arquitectado, ao que parece, esta teia de úteros que
perpetuam o universo e que, na sua imensa piedade, não tenha abandonado Adão
sozinho no Paraíso, coitado .
"Lugar instável" como Nuno
Carinhas classifica o território deste " Infinito,
de onde tudo pode rolar na nossa direcção …"