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abril 09, 2014

"o que está em cima está em baixo"



O espectáculo que Ricardo Pais apresenta no Teatro Joaquim Benite Turismo Infinito,  um dos mais belos a que assisti nos últimos tempos. Pessoa e as palavras, num espaço de perspectiva tão longe e tão perto, fraca expressão, a que encontro para caracterizar um cenário de luz que ora cria em nós a miragem de olhar as palavras num mundo infinito, ora num outro, tão linear quanto estas nossas vidas, de ecrã plano ou de folha negra riscada a branco. 


“Protejam-se contra a tortura da beleza”, diz Lídia Jorge no Prefácio de “Laços de Família” de Clarice Lispector e é o que se sente neste Infinito, bonito demais, tão belo que podes até chorar, mas não por ser triste. Tal como em Lispector, a quem Lídia Jorge chama “parente legítima de Pessoa”. 


  Será por o mundo estar cinzento, que me acontecem estes encontros improváveis, esta aparente dispersão, como se em múltiplas janelas procurássemos a paisagem que nos faz falta. 


“Clarice Lispector uma das raras escritas da qual se sai diferente quando uma vez lá se entrou, como se ela mesma fosse e contivesse em si a oferta de uma revelação surpreendente e por vezes devastadora”, afirma Lídia Jorge e eu penso em Saramago. Tudo por acaso, sucede estar a reler o "Evangelho Segundo Jesus Cristo", a olhar Maria mãe de Jesus, pelos olhos de Saramago, e a pensar, que sorte, ser mulher. E que deus, na sua infinita bondade tenha arquitectado, ao que parece, esta teia de úteros que perpetuam o universo e que, na sua imensa piedade, não tenha abandonado Adão sozinho no Paraíso, coitado .


 "Lugar instável" como Nuno Carinhas classifica o território deste " Infinito, de onde tudo pode rolar na nossa direcção …"

junho 14, 2012

voar com saramago


Ainda bem que existe gente que se lembra de pintar as palavras e aos tons de cinzento acrescentar-lhes a fúria e a raiva das paixões, a música das sinfonias.

  “Alguma  coisa podia talvez suceder no mundo/antes do triunfo final da peste nem que fosse uma/ peste maior “ (…) *

Se a bíblia posso ler como um poema, há poemas que me apetecem como uma bíblia. E é esta liberdade que a literatura me dá, de me servirem as palavras como uma capa ou como umas asas, consoante a necessidade do momento, que me faz correr para ela, agora e sempre.

Nesta crise intermitente que é viver, quem é que resiste a ter um coio, uma gruta ou a sombra de uma árvore onde se não ouve o barulho do mundo?

 “Ali estão pois na praça angustiados e em silêncio/à espera”(…)*

 O voo adiado. Até quando?

in, saramago, o ano de 1993*


junho 18, 2010

Saramago


" Não há nada mais forte que a vida e também não há nada mais frágil."

José Saramago