agosto 19, 2015

o que mais invejo nos homens


Não, não é isso que estão a pensar. É o tempo – o tempo que têm por conta deles – tempo para trabalhar, ler, passear, muito mais tempo que nós. Já era assim no tempo da minha bisavó. Se, com sorte, algumas tinham criadas – de dentro, de fora e sabe-se lá de quê, a partir do momento em que decidiram ser autónomas, mostrar que também elas pensavam, lixaram-nos. Assumimos a acumulação de funções, e nem sequer nos aumentaram os honorários. O preço a pagar para não sermos parvas… 


Oh, Virginias! Oh, Brownings!Oh, Plaths! 


 As avós esqueceram as pianadas, as aulas de francês, algumas arriscaram ter a sua própria mesada-produzir para alcançar alguma independência económica, mal sabiam elas- começaram a acumular: gerir o lar, tratar das crianças a par de nine to five jobs. Aí se criou o mito do multi-tasking feminino – Sim, que somos muito capazes de fazer várias coisas em simultâneo – à custa de quê?
  Logo se levantaram vozes- Cuidado, olha o casamento a ir por água abaixo. Mentira, iam como sempre foram. Os homens nas suas coutadas, por jogos de bridge e outras actividades lúdicas. Elas a achanatar-se como diz um amigo meu, muito do século passado. 

Deixou de haver tempo para grandes cabeleiras tratadas, para pensar muito nas modas. O corte à garçon deve ter nascido por essa época. As saias mais curtas para se poder subir para comboios, autocarros e eléctricos, antes de ter sido preciso aprender a conduzir para levar os filhos ao infantário. 
Quantas das noivas que não ficaram por casar, aqui, nos anos 60/70, se viram a braços com filhos pequenos enquanto eles partiam para a guerra. Esperavam, cuidavam, sem saber se, quando e como voltariam.


 A lo mejor, não era isto que as sufragistas teriam desejado. 


E no entanto, ela move-se. E no entanto, tal como a terra é eterna, nós amamo-los.



How do I love thee? Let me count the ways.
(...)




                                                            (...)



 In,Sonnets from the Portuguese,Elisabeth Barret Browning



( poeta reconhecida desde 1840 , viveu em casa do  pai, que a sustentava, desde que ela se mantivesse solteira)

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