Às vezes chego a crer que sim,
que devia dar-me com pessoas importantes. – Dar é capaz de ser excessivo, que
não me dou a qualquer um, penso. – Mas a
importância de ser uma pessoa importante escorrega-me pela testa, e apetece
mesmo é deitar-lhes a língua de fora, disfarçadamente, às pessoas importantes,
como quem limpa o algodão doce das feiras de carrosséis e se ri muito, muito,
muito.
As pessoas importantes são umas
chatas. E ter de fazer de pessoa importante é uma chatice. As pessoas
importantes raramente se riem, de tal modo que até se pode pensar que também
não choram. As pessoas importantes são cheias de importância mas são muito incompletas.
Importante era a minha avó, a ensinar-me a dançar o tango. E eram os risos das
mulheres lá de casa, de madrugada. Importante era deixar de ser bebé para poder
brincar na rua, conhecer miúdos malcriados, pouco importantes, pois. Importante
era andar à chuva, meter os pés na lama dos quintais. Importante era quem não
tinha medo de nada, muito menos dos ciganos. Importante era não se dar importância.
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