Este argentino que ficou português faz parte de um grupo cada vez mais restrito
de pessoas a quem escutava religiosamente .
Tal qual como bebia as palavras de Ruben de Carvalho, Lindley Cintra, David Mourão
Ferreira, Maria Helena Valera , Prado
Coelho. Há quem utilize a expressão, “pessoas que admiro muito”, eu prefiro
dizer, “ a quem amo muito”.
Uns faziam de uma aula uma tertúlia, outros da
tertúlia, aula.
Foi na Tertúlia do Forte
que o reencontrei e a quem ouvi, “Cá estamos novamente nas catacumbas, neste
lugar críptico, na caverna, numa cultura em trânsito”.
Dizem que em épocas difíceis as
gentes se reprocuram , que existem muitas reuniões deste tipo pelo país. Que as
pessoas voltam a sentir a necessidade do calor dos outros. E eu temo que até
isso nos possam tirar, que se volte muito atrás, ao tempo em que tudo tinha de
ser escondido, um tempo em que mais de três pessoas na rua era um ajuntamento proibido,
quando pequenas coisas, até um lembrete que se guardava no bolso ou se deixava
cair à beira da mesa de café podia ser
recolhido pela pide e usado contra ti .
Aqui fica o meu lembrete, uma nota escrita apressadamente
num folheto amachucado – No abandonemos las ruas! – Só falta o acento argentino nos olhos azuis de Gutkin .
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