Muita coisa acontece nos centros comerciais,
para além de olhar as montras, entrar e sair das lojas aonde grupos de jovens
adolescentes se divertem a vestir e a despir roupas, numa mascarada saudável, a
brincar às senhoras.
Há dias reparei na forma embevecida como uma
mulher de meia-idade se enroscava numa mesa discreta à sombra de uma coluna . Sim,
como num parque à sombra de uma árvore, debruçada com deleite e num sorriso
quase permanente sobre as páginas de um livro. Bem gostaria de ter investigado,
que livro seria aquele, mas bem a entendo, quando me vejo no comboio ou no metro
a sorrir feita palerma para páginas que vou folheando.
Gostar de ler, meio caminho andado
para ser feliz, para ultrapassar as crises de todas as vidas, mil mundos ao
nosso dispor para onde fugir e regressar com muito mais calma, com a realidade
na sua verdadeira – relativa – dimensão, fugir sem sair do real, que por muito
mágico e fora de tudo que um livro seja, terá sido sempre aqui na terra que ele
foi forjado – pelo menos até ver – e todos lá nos encontramos.
Nunca acreditei que a cama
existisse só para dormir. Desde miúda que faço como aqueles senhores das
gravuras romanas, reclino-me. Na cama, na relva, na areia da praia e leio, escrevo,
tiro apontamentos, estudo para os exames. Nem todos os que leem na cama usam os
livros como soníferos. Dependendo da hora, as pessoas sensíveis podem
decidir-se por encontrar-se com leituras mais pacíficas antes de dormir.
Por mais que o Zimler me chame
para descobrir um dos seus mistérios, A
Sentinela, a horas mortas prefiro o Don
Quijote, o problema é que à noite não posso ler em voz alta e ouvir os nossos
avós comuns, como quando estou sozinha; salto para Machado de Assis, Contos, a história a acabar com um
sorriso, depois de muitos piscares de olhos, sentidos implícitos, ironias de ternura.
Neste momento só tenho homens à cabeceira, mas antes de ter substituído a Bíblia
por Miguel Esteves Cardoso, Como é Bela a
Puta da Vida, li muita Agustina, Lispector, Virginia Woolf, Arundhati Roy.
Nunca vou esquecer.
Ainda bem que vos conheci, têm
sido os meus melhores amigos, ai que saudades do Virgílio Ferreira que lia e relia
como canção- de- embalar- a- alma- dos- tristes. Não, um livro é muito mais que
isto, o puro prazer de ler. Mas hoje, ou nos dias de inverno como o de hoje,
isso basta-me.
Oh mestra de dizer coisas que outros também sentem e não dizem ,compartilho consigo, entre outras coisas, as saudades da prosa de Virgílio Ferreira, que resolvi reassimilar em momentos pré-Morpheu destas noites longas e frias de Inverno. Quanto a centros comerciais, feiras de vícios e necessidades, são autênticas "culturas" de corpos e anticorpos, de faunas e floras, à espera de olhos e cabeças analíticas!
ResponderEliminarObrigada amigo, boas leituras!
EliminarSão os meus melhores amigos, embora não substituam os outros de carne e osso, são fiéis e quando nos cativam é para sempre.
ResponderEliminarFiéis, disponíveis , sempre com respostas certas para difíceis entendimentos com as vidas.Mesmo não sendo de carne e osso. Isso mesmo, cara via .
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