Cinema Medeia Monumental
Segunda, 28 de Setembro, 21h
sessão especial RUY BELO
RUY BELO. ‘TALVEZ UM DIA EU ENTRE NO CINEMA’*
Leitura de poemas pelo actor Pedro Lamares
António M. Feijó: "A Deanie Loomis de Ruy Belo"
"O lugar onde o coração se esconde"
(projecção de um curto filme de Luis F. Lindley Cintra com Ruy Belo e Teresa Belo)
Intervalo
ESPLENDOR NA RELVA, de Elia Kazan
* ”Sim pode ser talvez um dia eu entre no cinema
como quem entra decididamente num país”
Ruy Belo, "Meditação Anciã", in Toda a Terra, 1976
bilhetes: 3 euros
A maior parte dos poemas que serão lidos nesta sessão especial sobre a relação da poesia de Ruy Belo com o cinema pertence ao livro Homem de Palavra[s] (1970), onde, como o poeta afirma, na “explicação preliminar” à 2ª edição (1978), “a influência do cinema é notória […] mais do que em qualquer outro [livro seu].” E acrescenta: “ ‘Humphrey Bogart’ e principalmente ‘No way out’, ‘Vício de matar’ e ‘Esplendor na relva’ são poemas onde o cinema me ensinou a ver. No meu livro Transporte no Tempo ainda aparecerá “Na morte de Marilyn’ […]Ninguém, no futuro, nos perdoará não termos sabido ver, esse verbo que tão importante era já para os gregos. É de notar que, em ‘Esplendor na relva’, se recolhe o momento preciso em que Natalie Wood, actriz maravilhosa, que no filme encarna a delicada e fresca figura de Deanie Loomis, muito bem dirigida por Elia Kazan, procura em vão comentar numa aula um excerto de um poema de Wordsworth sobre a fugacidade da vida e a necessidade, como condição de felicidade, de colher a flor no próprio instante em que floresce. Em ‘No way out’, avulta o sentimento da pequenez humana ante os problemas mundiais. O real, o mais real, é o homem. Recorro, para isso, à antítese: ‘a dois passos de mim’ – ‘em beavar canal’.”“ ‘Eu sei que Deanie Loomis não existe /mas entre as mais essa mulher caminha / e a sua evolução segue uma linha / que à imaginação pura resiste.’Começa assim o soneto intitulado ‘Esplendor na relva’, que Ruy Belo inseriu em Homem de Palavra[s]. Deanie Loomis (aliás Wilma Deanie Loomis) é o nome da protagonista interpretada pela fabulosa Natalie Wood. O pretexto (em sentido literal) é o filme de Elia Kazan Splendor in the Grass (1961), com argumento de William Inge.Hoje, o filme ganhou ressonâncias míticas, associado aos idos de 60 e aos Maios de tal década. Na altura, não as teve […] mas para alguns – poucos e certamente não felizes – foi paixão tão devastadora como a que, no filme, os adolescentes Deanie Loomis e Bud Stamper (Warren Beatty) tiveram um pelo outro. Ruy Belo foi desses. Aliás, não certamente por acaso, foi ele o único poeta que conheço a cantar as duas mulheres mais intensas dos late fifties e dos early sixties: Marilyn Monroe (esse assombroso poema chamado ‘Na Morte de Marilyn’, que vem no Transporte no Tempo e em que nos pede para ‘em vez de Marilyn dizer mulher) – e Natalie Wood.Eu sei que Ruy Belo não cantou Natalie Wood mas Deanie Loomis. Mas também sei que Natalie Wood ‘não existe / mas entre as mais’, etc. e há nesse verso um prodígio de adequação poética. É quando se diz que ‘a sua evolução segue uma linha / que à imaginação pura resiste’. Resiste à ‘imaginação pura’ (no sentido de ‘pura imaginação’) ou resiste, ‘pura’, à imaginação? Ou seja, o adjectivo ‘pura’ refere-se à imaginação ou a Deanie Loomis? Ou – pode ser também – à ‘linha que resiste’? Nestas três perguntas está o cerne de Deanie Loomis, de Natalie Wood e de Splendor in the Grass. São mulheres e filme da nossa imaginação? Ou são mulheres e filme que resistem à nossa imaginação? Ou são mulheres e filme que resistem a uma linha evolutiva que só na nossa imaginação existe? Não sei, como provavelmente Ruy Belo não saberia, mas como também ele escreveu (na ‘explicação preliminar’ à 2ª edição do livro): ‘Ninguém, no futuro, nos perdoará não termos sabido ver, esse verbo que tão importante era já para os gregos.’ E, em Splendor in the Grass, tudo está no ver, que traz a história dos meninos e moços de Kansas – meninos e moços dos anos 20, de antes da Depressão – à dimensão das mais belas histórias de amor e de morte jamais contadas.”João Bénard da Costa, Os Filmes da Minha Vida, os Meus Filmes da Vida, 1º Vol. Assírio & Alvim, 1990
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