A pergunta que se impõe a quem lê o romance de Lídia Jorge que apresenta a revolução de abril e «Os Memoráveis» – Esta democracia, o ópio do povo?
Memoráveis que não quiseram ser
heróis nem aproveitar-se e tomar as rédeas do poder que acharam por bem
conceder ao povo, ingenuamente se apagando para dar lugar aos outros. Os que os
sanearam em Novembro, os que prepararam a vingança servida fria, em pratos de cinismos
e salamaleques, de corrupções mascaradas de solidariedades fictícias ,de liberdadezinhas,
de logros. – Que bom que é ter tantos cartões de crédito, diziam, iludindo o
povo adormecido que poucos quiseram acordado.
Os brandos costumes deram-nos um
fascismo assim-assim, um colonialismo porreiro, esta democracia , o ópio do povo.
Agora o povo unido esgota-se num mero
voto, e sim, será vencido, este será
sempre vencido, se, ao contrário dos que originalmente cantavam esta cantiga, se deixar ficar no sofá , a criticar, a mandar bocas no tasco, com
muitos copos de três à frente ou jolas pelo bairro alto. A democracia não se
esgota no voto, o povo unido só não teria sido vencido se a revolução fosse o
dia-a-dia, se molemente não nos tivéssemos deixado arrastar para o bem-bom do
eles-que-façam.
Ingratos, consentimos pensões aos
Pides para que comodomamente pudessem continuar a conspirar na sombra
favorecendo o poder do bruto e não do que esclarece, educa, critica. Mas nunca
agradecemos aos que não quiseram ser heróis, nem ao Charlie 8 nem aos 5000,como
nos conta Lídia Jorge. Alguns deles já mortos, outros saneados, injuriados e
presos injustamente por quem não tem um milionésimo da dignidade deles, não
arriscou um cagasésimo da própria vida no 25 de Abril. Os relvistas do séc. 21 que
começaram a ovular, no próprio dia 26 de 74. Esta é a democracia de centuriões, homens
agarotados que amuam e recusam ouvir o povo.
Nesta obra que agarra o leitor pela alegoria e
que cavalga ,página a página, para a parábola, cita Lídia Jorge o verso de Aragon
cantado por Jean Ferrat La femme est l’avenir de l’homme.
Que não fôssemos «alforrecas»,
clamava a senhora dona Teresa que queria fazer de nós« umas mulherzinhas » nas
aulas de moral no liceu salazarento dos brandos costumes e não me consta que
fosse nem comunista, nem anarquista…
«...ah pitié, ah pitié de celui qui n’a pas d’avenir!»,
cito eu que não sei cantar.
Obrigada Lídia Jorge, por perseguires o «coração da história» ( the heart of the matter?), o indizível;
alguma semente de verdade germinará do terreno fantasioso, quase fantástico,
deste realismo .
Para aqueles que nasceram depois de nós, da geração que conduz a trama desta narrativa e que não domina o francês como a bilingue Machadinha ,aqui fica o link para - Le Fou d’Elsa de Aragon .
A propósito das palavras de Aragon cantadas por Jean Ferrat "La femme est l´ávenir de l'homme" tive na quarta-feira uma experiência muito interessante. Estive na sessão que se realizou no Tivoli de apoio a António Costa para Secretário-Geral do PS e futuro primeiro ministro. Numa sala apinhada de gente era evidente que as mulheres estavam em maioria. Parece que estamos mesmo a caminho da sociedade matriarcal de que os demógrafos começam a falar!
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EliminarResistem, sobretudo se põem em causa a sobrevivência da espécie....