e o mundo é um gigantesco gellyfish
nestas manhãs soturnas de verdade
Uma infinita e mole massa quente
e respirante, o universo em que adormecidos males e cansaços acordam todos os
dias em antípodas distantes ou num lugar da alma em que há manhãs em que tudo
se revela.
Move-se esta massa eterna e vagarosa
de eflúvios quentes de vulcão e bolhas de fervilhante mal, todos os dias, os
mil quinhentos e cinquenta e tal dias elevados à infinita potência, que é
quanto leva uma alma humana a tornar a adormecer na mole universal do mal e uma
noite ou dia voltar a acordar e a levantar-se escorregadia, e poderosa, e cega.
Razão pela qual devíamos voltar
aos clássicos, a chave. Neles o eterno reencontro de caminhos, muitos,
percorridos antes de nós, de epílogos há muito chegados e esquecidos e repetidos
no imenso quebra-mar do tempo.
Por isso Eurípedes, por isso Shakespeare,
por isso Platão e Pasolini.
Neles a nossa alma decomposta – o
humano mal, vil, com curtas ascensões ao bem que ele pressente, e a que
resiste. O mal será mais saboroso, apetitoso, sexy. E a culpa, espectadora impotente, quase sempre chorosa, que
se arrepende hoje e torna a cair amanhã.
É disto que somos feitos, deuses
e homens, e todos o têm dito, de Eurípedes a Pasolini. Seria o que LMC nos quis
também dizer desta vez? Ou estava a espectadora atenta num daqueles dias de cegueira para o que não quer ver ? Tanto faz.
Muito mais haveria a divagar sobre
esta construção cénica de luz e sombra, de sons de passos de Abril a culminar na
estrela d’ alva que um dia voltará a
iluminá-los. Fico-me por esta citação de Platão que aclara a minha culpa.
“ Não deverá gerar filhos quem não quiser
dar-se ao trabalho de criá-los e educá-los.”
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