Primeiro
a obrigação. Agora que deixei a amadurecer
a tarefa que tinha em mãos, vou finalmente ler o que me apetece – pego em
Clarisse Lispector e mergulho com delícia no rio das águas que parecem turvas,
o das palavras dela sobre a paixão.
Na livraria espreita-me o último Lobo Antunes, acabou-se a proibição de te ler,
que tu, já sabes, vais ficar em mim, vais invadir as minhas frases, e eu não
quero, fujo de ti como de uma paixão nefasta, que não me deixa ser eu mesma,
que te pegas como uma febre, bem sei. Resisto. Não é Meia Noite Quem Quer, fica para depois.
Decido ter chegado a hora , arranjar tempo para descansar no colo dos últimos poetas acabados
de chegar, pão fresco, ainda quente fora da estante, Nuno Júdice e António
Carlos Cortez.
Ponho-me a ler em silêncio e descubro que de Nuno Júdice e de
António Cortez me apetecem os sons das palavras. Leio em voz alta, releio, nas
pausas que são as minhas, como se quisesse que o público, que não existe aqui,
mergulhasse nelas através de mim, como eu mergulho em Clarisse.
Lembro-me
de versos curtos, olhe aqui mr. Wilson,
acho que era vinicius , as palavras
do palco a saltarem como espadas, era
assim que eu queria ouvir esse quase grito – o de António Carlos Cortez
que se e nos interroga no poema "Ao Leitor" :
(...) E agora, quando lês, consegues separar /o lido na página do vivido onde encerraste / a verdade íntima dos factos? (...)
“ (…) / Será excessivo este
texto? / Salvamos o dia com versos? / (Excessivo é viver depois disto: / sem
forças depois desta fala) /. E António Cortez resolve esta questão, ” (…) /
porque na linha de fogo / insincera queima para sempre / o não dito o vivido a
ficção / e se te acusarem de jogo / diz-lhes do logro da noite / que é mentira
falar-se de morte / se as palavras não nascem do chão /.
Isto de uma pessoa se
sentir quase de férias, de repente, é muita interrogação.
Vou
mandar matar o meu cavalo louco que me desorganiza o pensamento, me faz
levantar da cama tarde, me quer levar para a praia, o campo, o cinema, a urbe e
os seus irrequietos habitantes.
É bom estar de férias?
Sem comentários:
Enviar um comentário