A partir de hoje, não digo mais nada sobre mim. Nem das lágrimas da minha mãe, nem dos sangues misturados, nem dos comboios que partiam e levavam de nós o homem fardado, tão belo no seu sobretudo cinzento, nem dos aviões que olhávamos a passar no céu e nós feitos parvos a repetir- lá vai o papá.
A partir de hoje só falo das palavras – sim talvez haja uma explicação, uma intenção, para a escolha da palavra morte, essa obsessão pela palavra partir. Ele há vários tipos de morte, pois claro - e há mortes de onde se vem e às quais se volta.
Muito menos esperem que vos conte o que aconteceu a Maria Antónia, a Marieta e aos outros. Cada um terá de encontrar aquilo a que a alma o levar. Não conjecturem fins felizes, nem infelizes, muito menos completos, já que nada NUNCA acaba. Respostas? Procurem, investiguem, no olhar das pessoas que se passeiam pelos subterrâneos, ou das que preferem a luz que o mar faz reflectir nos seus olhos. Vejam-se ao espelho, descodifiquem, encontrem-se – nem que para isso tenham de se perder por estes labirintos da memória, esta escuridão de sofrer sem a esperança de encontrar no fundo do túnel - a luz.
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