setembro 07, 2016

burkas

Apetecia-me falar de burkas. Mas o que é que eu sei de burkas? Que, ao que parece, não são um traje tradicional.

 E cada vez que oiço os exageros contra as burkas e os burkinis me lembro dos das viúvas como a avó Leo, das viúvas do Alentejo a que os costumes obrigam a vestir as pernas de meias de lã para que se não possa vislumbrar nem um milímetro de carne - e a carne delas é esbranquiçada e cor- de -rosa .

E aos costumes disse nada, diz-me ela , a Gradisca de Vaiamonte, obrigada a dormir com muitos desde que lhe puseram o carimbo de mulher da vida. E ela, coitada, a gostar de ser gostada como toda a gente,  a ter de assumir a provocante máscara , no andar balançante no dia da procissão. A máscara que lhe dava dinheiro e talvez de quando em vez um pouco de companhia – que, na vida de uma rapariga de 30 ou mais, a solidão é cinzenta como a sombra das crinas de um cavalo velho, tal qual um dia de Outono no meio do Verão.

 Há mulheres que são sempre raparigas, mesmo as mães, até as avozinhas quando se juntam a recordar as Primaveras da vida. Que de risos , que de brilhos nos olhares húmidos de contentamento menineiro . Sim, já sei que esta construção não é genuína – mas arraçada de francesa. Por favor deixem-me ser arraçada do que eu quiser. Já o tempo me escasseia para bons comportamentos, na vida pessoal e nas outras.

Se eu tivesse de usar burka, como já tive de andar de saias abaixo do joelho  –  uma convenção como qualquer outra –  agarrada ao pudor que vai minando o nosso corpo , esquecidos    os   banhos à beira- mar da primeira infância ;   se eu tivesse sido forçada a  me cobrir de burka, mesmo de cara coberta e borbulhas a crescer na pele da face  –  que sem andar ao  ar puro era o que me aconteceria  –  que repugnância sentiria ao levantar os véus. Eles que , para além do símbolo  da servidão em cativeiro, me seriam reconhecidos como a legítima protecção de mim , do meu corpo sagrado e impoluto. 
Como é que a rapariguinha ocidental cristã viveria o momento em que a lei a obrigasse a mostrar as partes do corpo que não mostra em público?

O que significa a palavra pudor? Não sei. Só sei que o corpo é meu; e a querer mostrá-lo, mostro-o. Mas sou livre de o guardar para quem quiser.

Isto é bem difícil de explicar aos meus amigos- com quem tenho tido discussões acesas –  os dress-codes variam de tempo para tempo, de sítio para sítio . Há lugares onde as mulheres são obrigadas a vestir o que não querem? Sim, até aqui na nossa terra há limites. Competir-vos-à a vocês, maridos, namorados , irmãos, amantes,  escolher o que nós despimos?

 Às mulheres compete lutar pela liberdade de dispor das suas vidas e seus códigos de conduta. Por favor, deixem que sejam elas a falar e a decidir a altura certa para mudar de roupa. É capaz de haver questões bem mais importantes - a partilha de poderes, por exemplo - na casa, na empresa, na rua… aqui e nas arábias.



2 comentários:

  1. O uso da burka imposto coercivamente em alguns países muçulmanos,é,à luz do entendimento dos direitos humanos no Ocidente,uma violação da liberdade das mulheres e um instrumento de opressão e domínio do homem sobre a mulher. Proibir o seu uso às comunidades islâmicas existentes nos países ocidentais, nomeadamente em França, não é mais que defender os direitos e liberdades da mulher muçulmana, obrigada coercivamente a um hábito canónico medieval. É que a essas mulheres não se coloca a possibilidade da opção de usar ou não a burka, usam-na porque a tradição assim as obriga, porque um "dictat" de homens assim preceitua.

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    1. Do texto- «Há lugares onde as mulheres são obrigadas a vestir o que não querem? Sim, até aqui na nossa terra há limites. Competir-vos-à a vocês, maridos, namorados , irmãos, amantes, escolher o que nós despimos?» Certas proibições não são mais que a expressão de um medo generalizado que convirá a alguns - quem fabricou a lei portuguesa de proibição de monoquini nos idos anos 60-70 ?

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