Não, não foi em vão que viajei por Céu Nublado com Boas Abertas de Nuno Costa Santos.
Depois da pausa
inicial por razões menores desta «vida de marinheiro», devorei a
tua história, ou a do teu avô contada por ti. Tenho a mania de desenhar smiles ao longo das páginas dos livros
que vou lendo, e olha que deixei lá alguns- devem ser as tuas boas abertas. Quanto ao céu nublado,
essa coisa tão açoriana e mais que portuguesa, lá chegar foi arribar ao Porto Sentido
do Rui Veloso.
A tua escrita é tudo isso – já não lastimo não ter tido oportunidade de te conhecer melhor anteriormente, agora encontrei-te.
A tua escrita é tudo isso – já não lastimo não ter tido oportunidade de te conhecer melhor anteriormente, agora encontrei-te.
E encontrei também aquela ilha
Terceira por onde andei enclausurada – e até a música dos grilos
nocturnos, que me encantava – olhava mas só ouvia, não via nada – no
horizonte aprisionado da pista de aviação.
Também no teu livro me perdi por histórias antigas de tios
e avós que passaram pelo Caramulo e devem ter visto a neve como tu a descreves,
a mesma que vi pela primeira vez numa excursão do liceu, a cair em farrapos pela
Serra, num duche de luz, a enternecer os meus olhos de mágoa, se calhar a
querer levar aquele milagre para casa.
O meu tio Necas morreu no Caramulo, mas antes constituiu
família, ainda resta uma primita. Esse desenhava e ajudou-me na matemática… ou
no desenho?
Lembro-me é que passava o tempo a desenhar baratas durante a aula
- ele, não eu! Eu ficava hipnotizada a olhar o lápis de carvão, muito mais
interessada na mão donde saíam gordas e raivosas, as baratas, do que naquilo que ele me ia dizendo…
Conta-se que, muito miúdo,
colocou um aviso na porta do quarto:
Manuel da cepa torta
Macedo da burra morta
Carrilho do olho torto
seguido da recomendação Proibida a Entrada …
Ler também é isto- abrirem-se-nos
os alçapões da memória, das nossas, quando quem escreve é capaz de patentear as
suas. Ler é como conversar e qualquer minuto de silêncio fazer sentido.
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