novembro 08, 2015

revisor, gente ou máquina






Não se trata de certeza do «pica do sete » cantado por Zambujo; nem de um papão de unhas enormes, como a bruxa da Branca de Neve a atacar-nos de lápis azul. Monge copista, Umberto Eco, iluminuras, não , nada disto.
 
 Mais do que um dicionário, eu queria era aqui o meu velho tio , a quem nunca perguntei se tinha tido revisores e como lidava com eles. Imagino-os  à mesa do café Gelo ou do Império, ou talvez ali em Cascais, sem máquinas, sem computadores , a ir de eléctrico até à rua das Pretas e a descer à Sociedade de Língua Portuguesa . Até podia combinar um encontro ali, que o meu tio de certeza não se ia importar- e como ele era gordo e preto, eu estava protegida, de certeza. Não ia deixar que me atacassem com pontos de interrogação, com escolhas sem explicações, que isto de falar para as máquinas é como ser cego, ouvir a voz, mas não ver o gesto, não sentir o olhar, a faltar o movimento da mão, o modo de sentar à secretária a pensar- que estopada, tenho de aturar esta.


Uma coisa já devo ter entendido: um revisor não é uma pessoa qualquer, como ouvia dizer em pequena. Imagino o poder que ele tem, o de riscar , o de pegar no texto e esfaqueá-lo,numa frase, dissipar-lhe o sentido, e, numa palavra , matar a música das que tocam com ela.

Se eu fosse deus, fazia com que só pudessem existir revisores de carne-e-osso. – Para os comer ao pequeno almoço? –   Não, para poder ouvir a sua voz e não ter medo.

Sem comentários:

Enviar um comentário