novembro 11, 2015

Carta de Magdala para Maria José



Eu nem sabia que a menina existia, não fora aquele senhor bonito da televisão. Muito menos imaginei que já mais alguém para além de mim, uma senhora chamada Inês Pedrosa, se tivesse também lembrado de lhe escrever uma carta. Confesso não a ter lido. 


 Eu podia ter já sabido muita coisa que não sei. Não por ter sido corcunda, como a menina, não por não ter tido amigos coloridos, bem mais belos que o seu serralheiro António. Sim, seu, não se amofine. Tudo aquilo de que a gente gosta, é um pouco nosso, pois então - olhar não é pecado. E até maridos eu tive, acredite; e talvez o ter tido tudo isso – que afianço, a si teria também feito tanto bem – a mim me tenha feito tanto mal. A tentação de os gostar, de escolhê-los – a eles – muito mais que aos livros que eu tanto amei. E vendo bem, mesmo aos livros não os poderia ter lido todos, como eu queria. Mas talvez, quem sabe, tivesse voltado a abrir alguns, quiçá nesse banco de jardim ou no leito, como eu gosto de os ler.


Minha querida Maria José, tem dias em que a invejo: a si e à sua varanda, aos seus vasos de sardinheiras que deixam marcas por onde passam, a si e ao seu António serralheiro, a esse sonho nunca concretizado, por isso eterno. Lembro-me de ter tido desses sonhos quando era muito jovem, quando tinha a sua idade; E sabe? Alguns se realizaram e acabaram. Não, não é por ter pena de si, para a consolar, nada disso. Quer mesmo saber? Nada pior do que um sonho terminado.

Um conselho derradeiro - desconfie de tudo o que lê , no que se refere a  textos sagrados , faça deles o que quiser. 

Após o pecado, primeiro de Eva, que, em vez de ser ajudadora do seu esposo, mostrou-se tentadora, e depois de seu esposo, Adão, que a acompanhou na transgressão, Deus proferiu julgamento sobre a mulher, dizendo: “Aumentarei grandemente a dor da tua gravidez; em dores de parto darás à luz filhos, e terás desejo ardente de teu esposo, e ele te dominará.”


Maria Magdalena


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