outubro 06, 2015

uma espécie de vómito



Desculpe que lhe diga, mas pra mim isto é como uma espécie de vómito. Não me venha outra vez com essa história, que é "para não esquecer". Não. É mas é pra deitar fora, às urtigas, todo esse passado de passos prá frente, passos pra trás , idas e vindas, quiçá os passos em volta já nem sei de quem, esta alma acumulada de outras almas, que só voará num dia leve, depois do vómito. 
O vómito de vinte e quatro horas em jejum, o vómito de uma quase morte para conseguir renascer do incêndio, da catástrofe , do naufrágio de mergulharmos em nós estupidamente, até ao osso, sem ter descoberto nada- muito  pouca coisa- e esse pouco , ser de mais. 
Desculpe que lhe diga, na minha ignorância infinita, estou-me nas tintas pra quem vai ler esta história, ou outra . Para o que interpretarão de mim, de nós, que a escrevemos, a escolhemos e a comprámos para ler. Esta história pode ser uma viagem sem ponto de chegada. Todos os destinos são possíveis. Dependendo de quem lê. Você vende o bilhete, de avião, de barco ou de memória. Não se chegará a um certo sítio . Cada um aportará à sua praia. Por favor,  caso tenha querido ir mais longe e não o tenha alcançado,  não me culpe da sua incapacidade, dos seus dias azuis, dos seus sóis cheios de luz que ofuscam o que vê. Muito menos  dos seus sonhos, pesadelos, caminhos sinuosos do seu ser, a que não consegue aceder.
Eu não passo de um autor, nem mesmo uma personagem sou. Procuro-as. E as que encontro nunca se avizinham pra me explicar a lógica que isto tudo talvez teria, caso não fosse eu a inventá-las  e você, a lê-las.

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