Lá vou eu pôr-me a escrever parvoíces, não posso ler Lobo Antunes, tinha prometido a mim mesma não o voltar a ler tão cedo, mas a tentação é maior que o ladrão, desta vez a quase obrigação, que foi o Bruno quem mandou...
Lobo Antunes está mais perto dos poetas -
O’Neill, José Gomes Ferreira, o da mulher no eléctrico, pois. LA está mais
perto das mulheres? Estará? Está pelo menos mais perto de si mesmo e de ter a
coragem de o mostrar.
A nós, escreventes femininas, já nos basta ter de saltar
essa barreira da censura transformada em auto-censura, mais a barreira do
mercado – o do livro, mais a barreira da moral, mais a da boa educação ,porra.
Que uma senhora… há que ser virgem;
uma mãe, virgem e pura … Maldito o
fascismo que nos deu cabo da vida, que nos deu cabo da verve, como dizia a avó
, a fantasia, pois, maldita censura que ainda hoje se interpõe entre o que nós queremos parecer e aquilo que somos.
Também nós tivemos a mesma guerra
colonial, a nós deixaram sozinhas os maridos e os noivos, desperdiçando as
nossas virgindades em esperas de vão de escada. De nós fizeram viúvas, algumas
de fraco subsídio, a ter de trabalhar a dobrar , mas quase todas na fila do pão
dos brandos costumes.
Ah, como nós odiamos esta gente,
a família militar e seus acólitos da igreja, como nós desprezamos as noites em
que nos enganámos em sucessivas camas solitárias, como nós evitámos a palavra
cio, enquanto vocês lá fora se rojavam no mato pela pátria, no tempo em que era
connosco que se deviam ter deitado. E agora estão mortos. Mortos. Nem nos vale
a pena chamar o vosso nome. Nada nem ninguém nos responde, a nós, às tais
viúvas ou às sempre-noivas que ficaram.
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