Ontem fui ver
um filme de guerra. Não gosto de filmes de guerra. Os filmes de guerra fazem-me
lembrar as guerras em que não entrei a matar mas em que me morreram amigos,
desses que não voltam mais.
No átrio do
cinema encontrei um – bem vivo – mas que não via há dez anos ou mais. Olá, então como vai, canta o Chico.
Cenas de passeios com «a quadrilha» era assim que o grupo se auto- denominava,
no tempo em que éramos capazes de fazer a pé Paço de Arcos- Carcavelos ida e
volta, os quatro ou os cinco, na conversa, na risota.
Tudo o que é ou
foi o nosso mundo, incluindo «os amigos», está presente nos livros que se
escrevem. Perguntar a quem vive se o que faz é autobiográfico, como se pergunta às vezes a quem escreve, a quem
pinta, não faz lá muito sentido – Não creio que um autor se separe
completamente de si próprio quando pinta, escreve ou faz filmes. Nem mesmo
quando encarna uma personagem.
Tudo o que se
inventa passa pelo que passa por nós.
Por vezes é só
uma frase que ouvimos a alguém – com ela se constrói uma estória inteira,
se fabrica, se inventa, ou reinventa.
O “Paulinho” passa por um capítulo de outra
ficção que deverá sair um destes dias. É uma cena de mar – num navio ao largo
de uma ilha equatorial alguém visita esta personagem. Ou seja, o meu amigo está
lá, sem ser completamente ele, mas está. Será que ele sabe? Ou vai saber?
Lembro-me de um
outro com quem passei uma época que não se esquece e que me dizia muita vez –
frase que me ficou para sempre – o tempo é inexorável. Quer queira, quer não, a
verdade é que este amigo está presente neste romance. Será que ele alguma vez o
vai ler e se vai reconhecer?
Ao voltar
a casa tento descobrir o que foi feito dele, na Net, claro. A esse encontrei, o
da história do rapaz que se benzia sempre que passava à porta da Catedral. Mas
não a vai ler, de certeza. – Tinhas razão, a morte é inexorável.
Há quem diga
que se escreve para se ser lembrado, eu acho que escrevo para não esquecer.
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