À minha amiga Rita, Rita de Cássia – um nome
lindo, pois é – não lhe estava nada a calhar esta história da guerra ou da
guerrilha. Já tinha passado por muitas lutas, por demasiadas partidas, queria
sopas e descanso, diz ela. Esta Rita está
numa relação, com toda a impermanência que estar numa relação significa e que leva alguns a permanecer, ou
seja a amar eternamente enquanto dura.
Os Levantinos não a assustam, mas enoja-a
pensar na história do petróleo, dos campos de refugiados, das crianças da fome
em fuga pelos desertos, a viver em terras áridas cheias de doença e infecção.
Quando a Rita ouviu falar dos
ataques a Paris, de infantários fechados e evacuados, meteu-se no cabeleireiro.
Aquilo parecia uma feira – o Canal do costume,
das músicas manhosas ou românticas, tinha sido substituído pela informação em
directo do que se passava em Dammartin , cabeleiras suspensas dos
acontecimentos – como se de um jogo de futebol ou de uma telenovela se tratasse.
Para não pensar fugiu para o centro comercial, o útero de todos os dias, ou
todas as obrigações. Tratou de lá se encontrar com o amante, como a Rita
costuma dizer.
E a história da guerrilha, do
assalto, presente em todos os écrans.
Por sorte o marido abraçou-a muito quando chegou, riram e um pouco de sol
brilhou ali dentro a las cinco de la tarde.
– Quando o Sol brilha, não esperas a tempestade,
diz-me ela.
Mas uma pequena nuvem pode ser o
seu prenúncio. Já sei, as mulheres são de Vénus e os homens de Marte, às vezes
basta um olhar, uma curta frase para dar cabo do ambiente- e se as
expectativas são altas, pior ainda.
Discute-se por dá cá aquela
palha, neste caso, por um pastel de nata. Mas para quem se ama muito, é a mesma
coisa. Um pastel de nata, ou uma kalashnikov.
E fica-se muito doente.
Foi assim que encontrei a Rita,num naufrágio de desgosto.
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