fevereiro 21, 2014

LIVROS PROIBIDOS



Francisco Louçã e Ricardo Costa iniciaram há dias o ciclo de conversas LIVROS PROIBIDOS na Biblioteca de Oeiras. Louçã tinha preparada uma apresentação pedagogicamente atractiva do romance de Steinbeck, As Vinhas da Ira.


O paralelismo em relação aos tempos que vamos vivendo era inevitável. Só por isso, terá valido esta iniciativa, pelo desabafo de alguns. Fixei as palavras da voz feminina a lembrar o Alentejo e o olhar dos trabalhadores a quem ela abria a porta de casa e dava o recado – Hoje já não há trabalho. E a noção de que o inimaginável pode muito bem acontecer, como referiu Louçã, filhos e netos não terem tido vergonha de reduzir as reformas das mães, dos pais, dos avós.


As Vinhas da Ira, obra perseguida e ainda hoje proibida nalgumas Bibliotecas dos Estados Unidos, também um pretexto para não esquecer a censura.

Muita da nossa gente não foi, felizmente, confrontada com a censura diária que dava  direito a ficar sem emprego ou na prisão. Certa geração terá vivido uma liberdade “acima das suas possibilidades”, como diria a troika e seus quarenta ladrões. Alguns nem terão ainda percebido que atrás de umas escravaturas vêm outras . Eles nem sabem da missa a metade.

 É que o inimaginável pode voltar a acontecer.


E já agora, para uma espécie de catarse, o verso que não apareceu em O Jornal de um antigo  sábado.

«(…)aquele que não entra por ser negro(…)»

No lugar das palavras, um espaço em branco.                                 

 Durante muito tempo não deixei que publicassem as minhas coisas, ainda hoje mantenho alguns muros – ninguém gosta que lhe cortem as palavras. Aos dezassete anos, a querer mudar o mundo com elas, uma desilusão bruta e selvagem.

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