Francisco Louçã e Ricardo Costa
iniciaram há dias o ciclo de conversas LIVROS PROIBIDOS na Biblioteca de
Oeiras. Louçã tinha preparada uma apresentação pedagogicamente atractiva do
romance de Steinbeck, As Vinhas da Ira.
O paralelismo em relação aos
tempos que vamos vivendo era inevitável. Só por isso, terá valido esta
iniciativa, pelo desabafo de alguns. Fixei as palavras da voz feminina a lembrar o
Alentejo e o olhar dos trabalhadores a quem ela abria a porta de casa e dava o
recado – Hoje já não há trabalho. E a noção de que o inimaginável pode muito
bem acontecer, como referiu Louçã, filhos e netos não terem tido vergonha de
reduzir as reformas das mães, dos pais, dos avós.
As Vinhas da Ira, obra perseguida
e ainda hoje proibida nalgumas Bibliotecas dos Estados Unidos, também um
pretexto para não esquecer a censura.
Muita da nossa gente não foi, felizmente,
confrontada com a censura diária que dava direito a ficar sem emprego ou na prisão.
Certa geração terá vivido uma liberdade “acima
das suas possibilidades”, como diria a troika e seus quarenta ladrões. Alguns
nem terão ainda percebido que atrás de umas escravaturas vêm outras . Eles nem
sabem da missa a metade.
É que o
inimaginável pode voltar a acontecer.
E já agora, para uma espécie de
catarse, o verso que não apareceu em O Jornal de um antigo sábado.
«(…)aquele que não entra por ser negro(…)»
No lugar das palavras, um espaço em branco.
Durante
muito tempo não deixei que publicassem as minhas coisas, ainda hoje mantenho
alguns muros – ninguém gosta que lhe cortem as palavras. Aos dezassete anos, a
querer mudar o mundo com elas, uma desilusão bruta e selvagem.
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