Caro Papa,
Não se aflija , haverá sempre
mulheres que nunca se ficarão por atribuir à maternidade um papel meramente
social, isso era dantes , quando só se podiam fazer bébés com a licença do
casamento católico , ou não , ou com o único fim, social – de transmissão da
propriedade por via masculina. As mulheres são seres polifacetados que contêm
em si diversas qualidades que põem em acção ou simultaneamente, ou “à vez”.
Muito menos procuram as mulheres
ocupar os espaços tomados pelo masculino, espaços de salas frias abertas sobre o poder pelo
poder. Se as mulheres desejam o poder é para governar melhor a casa dos deuses
e dos homens.
Como a Francisca , que , sem
saber como , me dita estes versos que vai fazendo, sobre o mundo e a justiça, eu não
tenho culpa dona maria joão , não tenho culpa. É assim, nos mundos em que
as mulheres não têm voz , sentem-se culpadas por sentir, por pensar , e mais ainda
por sentirem o que pensam.
Alentejo abandonado p’la nossa governação
Tu davas o sal e o vinho e davas
azeite e pão
Eu com a fouce na mão cortei trigo e cevada
Alentejo abandonado davas tudo e nam dás nada
Água da Fonte das Bicas a correr
pró chafariz
Cada vez ‘ tamos mais pobres com
as leis do nosso país.
Estes e outros são os versos que
a Francisca não tem culpa que lhe venham à cabeça , quando o coração aperta,
por um passado difícil, por muita esperança perdida , por um medo maior do que aos netos possa vir ainda a acontecer .
E cada vinte e cinco de Abril ela
clama, chora por essa esperança , a ressuscitá-la.
Oh 25 de Abril , o dia da
revolução
Morreu o Salgueiro Maia, foi o
melhor capitão.
Ele com seu batalhão
Sempre na linha da frente
Ele combateu p’la gente
P’ra hoje estar tudo estragado
E eu ao cemitério fui, aonde ele
está sepultado.
Ai, senhor Papa, senhor Papa ,
como eu gostava que conhecesse a Francisca Maria, aqui da aldeia de Vaiamonte.
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