O livro descoberto na Casa da Gazeta, herança
disputada ao milímetro, que havia quem quisesse herdar tudo o resto, os abraços,
os beijos, os amores, tudo o que já não havia.O Conquistador,
o livro que não interessou a nenhum dos teus irmãos, foi quem abriu a porta a Almeida
Faria, esse quase desconhecido – santa ignorância – passou a invadir as tuas
manhãs e alguns serões, a desviar-te da tarefa a que te comprometeste – rever
texto, versão após versão, para poder sair algures no tempo, haja
fé.
Ele
há estórias que vivem ao lado dos
livros, transbordam das suas páginas. Deixaste-te conquistar pelo conquistador,
que tu não és nada escolástica, nem racional, nem cientista, nem nada. Nenhuma
das escolas por onde andaste te conseguiu convencer. Tens a mania que não
queres saber nada dos autores, da vida deles, que isso interessa muito pouco,
mas estás aqui cheia de dúvidas. Este senhor da literatura, discreto, sem
alardes, sem construções de imagem avant-garde ,
talvez clássico, a parecer um vulgar
conservador, discretamente vestido, discretamente penteado e lavado,
discretamente ouvido numa voz discretamente suave, num corpo alto e magro, pois
era com ele que gostavas de bater um bate-papo, sobre A Paixão, perguntar-lhe sobre o Alentejo, pois, Odemira, se terá
sido ele mesmo a escrever a carta da Estela, “ … todos os dias me dói de cada vez que me alembro que inda faltam
aquase quatro meses para o brão…”, ou se a terá retirado de algum molho
preso por cordel cinzento nalguma mala de cartão, ou de algum caixote onde se
guardam recordações que os outros um dia vão ter de deitar fora, ou de uma
daquelas caixas de folha, onde algumas donas-de-casa guardavam os
trocos, pelo menos nos filmes e nos livros de terror.
Ai, meu querido senhor, fez-me lembrar o
meu pai, a quem eu também nunca fui capaz de dizer o que me ia na alma.
Sem comentários:
Enviar um comentário