Tenho para mim que qualquer
enunciado, no papel, na tela ou na pedra pertence a quem se dirige. No caso do
livro, ao leitor. É ele quem vai sentir a seu modo o que leu. Não compete ao
autor dar explicações. Quem lê, lê o que a sua alma alcançar.
Este blogue é um sítio em que autora não
pretende fazer crítica literária, apenas dar fé de impressões que lhe vão
ficando do que lê.
Quanto ao crítico literário, o que
se embrenhou pela literatura com o objectivo de abrir (ou fechar?) o caminho de
quem lê, esse tem outras obrigações. Grande parte dos leitores tem em conta as
opiniões dessa figura enigmática e poderosa, guia dos mercados da arte. Tal
como o crítico de cinema não conhece apenas telenovelas, o crítico das letras
tem de saber do que fala.
Em
Praça do Império o leit motiv está
nas pessoas, as suas dúvidas, o seu crescimento, os seus avanços e recuos, uma
tentativa de entender o Homem e a sua circunstância, as suas contradições.
Decidiu a minha amiga escrever
uma crítica. Tal como já tinha tentado ser música, cantora, escritora (insistindo
com os amigos para que lessem, alguns caridosamente se eximindo de revelar tudo
o que pensavam, tentando dar achegas construtivas, pelo menos para que a prosa
fizesse algum sentido) envereda agora pela crítica literária.
Uma forma inovadora de crítica- a
intriga. Inicia o texto crítico com um desabafo, incompreensível para
quem não esteja a par dos factos. No primeiro parágrafo fala da razão pela qual
tinha decidido não ler o livro, tendo-o comprado por obrigação. Pelo que,
chegada a casa o terá atirado para o canto mais recôndito da estante. Talvez o
desejo de o queimar na fogueira? A razão- não ter feito parte da lista de
agradecimentos a que a autora chamara «fontes de adrenalina».
Esta ecléctica criatura, que se
julga capaz de tantas artes e confessa ter grande admiração pelos famosos,
todos eles, decidiu apresentar-se no lançamento de Praça do Império para
agredir a autora – Apesar de não fazer parte das tuas fontes de adrenalina-
disse- assina aqui. Expliquei que não, realmente não tinha feito parte. Poucos
dias antes tinha a senhora estado com o livro na mão, lendo e relendo a página
onde constam as pessoas que tiveram o trabalho de ler e dar opiniões
construtivas. Não, não tinha sido o caso.
Desconhece a minha amiga que, de
um modo geral, um crítico se exime de contar todo o romance. De desvendar as
surpresas reservadas ao leitor. Pois para ela essa consideração também não
existe.
A autora da crítica relata em
cinco páginas, uma no cravo outra na ferradura, que o que a leitura lhe suscitou
terá sido uma sensação semelhante à de quando leu Saramago; por outro lado confessa
não ter entendido quase nada.
Há páginas onde é preciso espreitar portas
entreabertas pelos autores. Nem todos as vislumbram.
Diz ela que leu o romance duas
vezes- pois deve lê-lo novamente.
( continua nos próximos capítulos)
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