junho 02, 2016

Luis Sepúlveda, o velho que lia romances de amor

Numa terra chamada Idilio, lá para a Amazónia dos Shuar, existe um velho, Antonio José Bolívar, a quem a solidão ensina a juntar as letras. Diz ele que prefere romances de amor. Bastam-lhe poucos livros para lhe explicar o mundo, que o mundo que ele traz consigo é bem maior que tudo o resto.

Esta história trata do difícil diálogo entre os seres - quanto mais civilizados mais ignorantes das leis naturais, mais afastados de si próprios, menos capazes de entender o outro - quer o outro seja um homem, um gorila, uma onça , ou toda a natureza que insistimos em governar á nossa maneira, sem pensar em todos os habitantes minúsculos ou maiúsculos que ela alberga .   Neste útero, onde,nem se sabe bem porquê, fomos acolhidos pela tal suprema madre que a civilização tanto esquece, bem podíamos atentar no exemplo de o velho que lia romances de amor.


--Como são os livros de amor?
-- Bem, contam a história de duas pessoas que se conhecem, se amam e lutam por vencer as dificuldades que as impedem de ser felizes.
Nunca me tinha aparecido uma definição tão simples e tão abrangente - todo o amor é assim, qualquer que seja o seu objecto. (pg 61)

Sobre outro assunto me sinto completamente do lado de Antonio José Bolívar.

A voz do narrador esclarece:

« Os textos de história pareceram-lhe um chorrilho de mentiras. Era lá possível que aqueles senhorecos pálidos, de luvas até aos cotovelos e apertados calções de saltimbancos, fossem capazes de ganhar batalhas. Bastava vê-los de caracolinhos de cabelo bem cuidados, agitados pelo vento, para perceber que aqueles tipos não eram capazes de matar uma mosca. De tal maneira que os episódios históricos foram desprezados pelos seus gostos de leitor».

Meu querido António Jose , recupero aqui um verso de Paul Geraldy (um piegas de1913, dirão alguns amargos) - Si tu m’aimais et si je t’aimais, comme je t’aimerais.-

Quem sabe não terás sido tu, Jose Bolívar, neste livrinho há muito tempo lido e sobre o qual ficara a difusa sensação de ter gostado muito, tu Jose Bolívar e a minha rica Prof. de História do LMA, Judite Pais ( ter- se-ia ela zangado com a História  ou com as histórias que  tinha de ensinar?)- os que me levaram  a descrer de «historiadores»?

A propósito de pessoas que lêem a História como uma  Bíblia:

 «Guardado está o pecado…» via Luis Sepúlveda - Para isso é que servem os amigos. Para celebrar os dotes do outro. (pg 24).





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