José Eduardo Agualusa, As Mulheres do Meu Pai, Dom Quixote, 2007
Para já, coragem, para chegar à última página , fechar o livro, suspirar de saudade.
Em Agualusa o difícil é perceber o que mais nos agarra – se a miríade de personagens , todas com um passado no coração da história, na riqueza das identidades de alguns, ou a multiplicidade de viagens , enredos repletos de lugares onde gostaríamos de ter estado, ou revisitar.
Em As mulheres do Meu Pai não quero que Faustino acabe, não quero me separar de Laurentina. Apanhei até o seu jeito de falar, quase o sotaque de Alfonsina. O que é que eu li, com que lente. Entrei na sua pele, autor, ou você é que entrou na minha? Banho quente de áfricas de onde não quero voltar, gelatina morna que não quero raspar de mim.
Mas o que é que te aconteceu? Tu estavas na estação de metro por onde foram passando as personagens, na gare do comboio, à boleia em Melembelembe, no aeroporto, no avião, em suma, em viagem. Esta nossa viagem para a vida e para a morte, esta maravilhosa viagem cheia de sound and fury, de céu-mais azul-é-impossível, ou carregado de fúrias quentes da ilha do Príncipe, de trovões moçambicanos e angolanos.
Construíste um esquema, um projecto, numa folha A4 cheia de setas, a viagem de Karen e do outro, o cruzarem-se ou quase, com Laurentina procurando Faustino? Terás desenhado círculos, conjuntos em que construíste famílias sobrepostas que se vão repetir infinitamente no futuro (gravidezes de Lau, Bartolomeu, Maurício, filha de general N´Gola). Trata-se de uma alegoria, uma representação das famílias africanas em que até os coxos saltam a cerca? (pg. 278)?
E o que é um bom romance? Um que me faz ir á net procurar mapas de África, aos dicionários, tentar descodificar os vários linguajares africanos, um que me incita a mil perguntas, mesmo que não obtenha respostas, um que me leva a amar as gentes e odiar as injustiças e apesar de tudo, a aceitar o mundo com a gargalhada africana.
Porque estou sempre dividida à procura de mim, no cheiro de África, na terra vermelha laranja de sangue de antepassados ,de ódios e paixões entrelaçados, sinto-me bem neste romance, como num banho de espuma.
Fica-me o teu conselho, autor “-Nada é tão verdadeiro que não mereça ser inventado” e a saudade de ser africana.
Esta casa tem sofrido muitas modificações, está melhor assim...agualusa, essas histórias são fantásticas.bjo
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