agosto 03, 2014

com Mário Cesariny



nem ouvir, nem ver, só escrever,  reler e ler, das manhãs de domingo da antena 1, este poema, n'a cena do ódio, mário cesariny, durante o duche.

PASTELARIA

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura


Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio


Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante


Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício


Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola


Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come


Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!


Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo


No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

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