setembro 12, 2013

antónio carlos cortez, a resposta




Primeiro a obrigação. Agora que deixei a amadurecer a tarefa que tinha em mãos, vou finalmente ler o que me apetece – pego em Clarisse Lispector e mergulho com delícia no rio das águas que parecem turvas, o das palavras dela sobre a paixão. Na livraria espreita-me o último Lobo Antunes, acabou-se a proibição de te ler, que tu, já sabes, vais ficar em mim, vais invadir as minhas frases, e eu não quero, fujo de ti como de uma paixão nefasta, que não me deixa ser eu mesma, que te pegas como uma febre, bem sei. Resisto. Não é Meia Noite Quem Quer, fica para depois. 


Decido ter chegado a hora , arranjar tempo para descansar no colo dos últimos poetas acabados de chegar, pão fresco, ainda quente fora da estante, Nuno Júdice e António Carlos Cortez.

 Ponho-me a ler em silêncio e descubro que de Nuno Júdice e de António Cortez me apetecem os sons das palavras. Leio em voz alta, releio, nas pausas que são as minhas, como se quisesse que o público, que não existe aqui, mergulhasse nelas através de mim, como eu mergulho em Clarisse.


Lembro-me de versos curtos, olhe aqui mr. Wilson, acho que era vinicius , as palavras do palco a saltarem como espadas, era  assim que eu queria ouvir esse quase grito – o de António Carlos Cortez que se e nos interroga no poema "Ao Leitor" :

(...) E agora, quando lês, consegues separar /o lido na página do vivido onde encerraste / a verdade íntima dos factos? (...) 



e  em "No Mármore", também  presente no livro "Linha de fogo":

 “ (…) / Será excessivo este texto? / Salvamos o dia com versos? / (Excessivo é viver depois disto: / sem forças depois desta fala) /. E António Cortez resolve esta questão, ” (…) / porque na linha de fogo / insincera queima para sempre / o não dito o vivido a ficção / e se te acusarem de jogo / diz-lhes do logro da noite / que é mentira falar-se de morte / se as palavras não nascem do chão /.


Isto de uma pessoa se sentir quase de férias, de repente, é muita interrogação.


Vou mandar matar o meu cavalo louco que me desorganiza o pensamento, me faz levantar da cama tarde, me quer levar para a praia, o campo, o cinema, a urbe e os seus irrequietos habitantes. 


 É bom estar de férias?


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