O
passeio habitual pela avenida abaixo, desta vez quantos somos , os cravos
venderam-se todos antes das 2 da tarde. Gostei do discurso do seu camarada, parabéns,
muito obrigada.
Olho
a expressão entristecida de muitos, estou aqui, mas no limite, não tenho palavras,
é o que me dizem os seus olhos, os fatos encharcados pela chuva, as lágrimas do
tempo desta hora, a nossa única aliada.
Os slogans
habituais gritados na voz que nos resta, caminhando
e andando somos todos iguais, não era assim a cantiga? Nós, os que temos
quase tudo, os desempregados que insultam os senhores do dinheiro, os jovens
precários que vão improvisando palavras de ordem sobre o que não comem quando a
conta no banco fica a zeros.
A mensagem que a discreta rapariga distribui
em minúsculos papelinhos do tipo das quadras populares dos vasos de manjericos,
pede silêncio, às 16.30. E pergunto-lhe porquê, será algum minuto de silêncio
por alguém que não vai estar mais presente. Que não fala português, que isso
não é problema, falamos noutra língua. Percebo, os silêncios são também uma
forma de comunicar, percebo o seus múltiplos significados e a sua utilidade quando
é preciso calar para ouvir o outro, para pensar, mas aqui, neste momento não
podemos silenciar o que nos vai na alma. Ela concorda e olha insistentemente o
relógio, são 16 e 30. E eu a pensar como é que havia de traduzir o poema do tal
poeta timorense, Fernando Sylvan, pedem-me
um minuto de silêncio, nunca me calarei, ou como é que havia de dizer em
inglês que, ruído, tinha sido o vómito putrefacto de cavaco, nessa manhã.
A
sorte é que ninguém se calou.
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