abril 26, 2012

o silêncio , cavaco


O passeio habitual pela avenida abaixo, desta vez quantos somos , os cravos venderam-se todos antes das 2 da tarde. Gostei do discurso do seu camarada, parabéns, muito obrigada.

Olho a expressão entristecida de muitos, estou aqui, mas no limite, não tenho palavras, é o que me dizem os seus olhos, os fatos encharcados pela chuva, as lágrimas do tempo desta hora, a nossa única aliada.

Os slogans habituais gritados na voz que nos resta, caminhando e andando somos todos iguais, não era assim a cantiga? Nós, os que temos quase tudo, os desempregados que insultam os senhores do dinheiro, os jovens precários que vão improvisando palavras de ordem sobre o que não comem quando a conta no banco fica  a zeros.

 A mensagem que a discreta rapariga distribui em minúsculos papelinhos do tipo das quadras populares dos vasos de manjericos, pede silêncio, às 16.30. E pergunto-lhe porquê, será algum minuto de silêncio por alguém que não vai estar mais presente. Que não fala português, que isso não é problema, falamos noutra língua. Percebo, os silêncios são também uma forma de comunicar, percebo o seus múltiplos significados e a sua utilidade quando é preciso calar para ouvir o outro, para pensar, mas aqui, neste momento não podemos silenciar o que nos vai na alma. Ela concorda e olha insistentemente o relógio, são 16 e 30. E eu a pensar como é que havia de traduzir o poema do tal poeta timorense, Fernando Sylvan, pedem-me um minuto de silêncio, nunca me calarei, ou como é que havia de dizer em inglês que, ruído, tinha sido o vómito putrefacto de cavaco, nessa manhã. 

 
A sorte é que ninguém se calou.

Sem comentários:

Enviar um comentário