maio 07, 2017

Paula Rego, Branca de Neve brincando com o troféu do seu pai



Era uma vez ,


Três lindos meninos, cada um de sua mãe que em conjunto se sentiam todos do mesmo pai.
Quando o pai começou a ficar velho e doente decidiram contar-lhe histórias para o desentristecer.

Começou assim  a mais novinha, de olhos da noite escura e terna . -   Era uma vez uma menina gorda que muito amava o seu pai. Para ele, ela era a mais linda , a mais inteligente e a mais terna menina do universo. E a menina começou a ficar cheia de si, cheia , cheia, nem cabia em si de contente, dizia-se.

Um belo dia o pai voltou a casar, como era seu hábito, e arranjou-lhe mais uma madrasta. A menina que já estava farta de madrastas, novas, sim, novas madrastas e madrastas novas, até mais novas e quase mais bonitas que ela, começou a pensar o que havia de fazer.Pensou, pensou e se bem o pensou, melhor o fez.

A menina tinha um namorado chamado Rui. Este Rui aparecia lá em casa pela hora do chá, por vezes um pouco antes, para conversar um bocadinho sobre livros, animaizinhos de estimação, o que haviam de fazer quando fossem grandes, qual o colchão que haviam de comprar para a sua cama e de que cor haviam de escolher os cortinados do quarto. Um dia ele perguntou-lhe -  quantos filhos quer ter, minha pequenina? Ao que ela respondeu "um casalinho, pois então”.E desceram para lanchar.
 A madrasta tinha preparado deliciosas miniaturas de amêndoa e torradas com muita manteiga. Rui elogiou os bolinhos , a cor e o sabor do chá. A madrasta até tinha posto na mesa um frasquinho de Rum Kandis - açúcar mascavado embebido em rum e baunilha . 
 Aromas de especiarias e o chá macio e doce.
 O rapaz pediu que lhe abrissem a janela, a estação aquecia . A madrasta emprestou-lhe então o leque vermelho comprado numa excursão a Sevilha.
A rapariga oferecia mais chá a que juntava as pedrinhas com sabor a rum que crepitavam no líquido quente, como se um ferro em brasa tivesse caído na neve.
Vai mais um bolinho de amêndoa, Ruizito? Isto é que está um calor, queixava-se a madrasta. Deixe-se estar meu amor, eu ajudo a levantar a mesa. A rapariga , que sim, que  tinha de ir para cima copiar um textinho para a gaja de português.E lá foi.

A cozinha era para lá de um estreito corredor. O rapaz transportava as chávenas usadas , o bule e os pratinhos num tabuleiro redondo de charão. Ora toda a gente sabe que não há nada pior para transportar estes utensílios que um tabuleiro de charão redondíssimo que mal cabe no corredor. Vinha a madrasta recolher os talheres e a toalha , ia o rapaz com toda aquela traquitana nos braços, vai daí e chocaram . Enorme estardalhaço no corredor escuro.

A menina estranhou, mas deixou-se ficar com aquela interrogação ao canto do olho, que tanto intrigava os mais velhos. Silêncio, esperou para ver. Nada, absolutamente nada. Tinha mas era de se concentrar nos seus trabalhos de casa. O tempo espreguiçava-se no calor da tarde. As orelhas da menina quase pareciam umas orelhas de burro, de tanto quererem ouvir o silêncio. Sustinha a respiração , suspendia o gesto. Ficou assim durante muito tempo, meia hora, talvez.

Ouviu o portão do jardim. Era cedo , não podia ser o pai, faltavam cinco minutos para ele chegar a casa. Mas não faltavam. A partir daí a menina recusava comer a sopa a não ser que a  deixassem sentar-se à mesa exibindo o troféu do seu pai.



Moral da história:

As madrastas não devem servir chá aos namorados das enteadas perto da hora da saída dos escritórios.

5 comentários:

  1. Outra moral da história:

    os pais das meninas que têm madrastas que servem chá aos namorados das enteadas,nunca deviam sair mais cedo do escritório!

    MORALISTA

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  2. bem, diria, que quem anda à chuva molha-se. eheheh, bem visto, bem escrito. bjo.

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  3. estamos à espera de outra história...sentados, a idade não perdoa!!

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  4. Su, Moralista e Via,

    Sempre atenta aos vossos comentários, o programa segue dentro de momentos.
    Histórias há muitas, falta-me aquela da menina que não se aguentava sentada...BJO

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