setembro 01, 2013

Mia Couto , o Fio das Missangas





A língua portuguesa mais perto de Pessoa e de Camões que já tenho escutado. Porque este português mesclado, inventado e reinventado a cada passo por sons e ritmos que sabem bem, mesmo bem, melhor ainda ao ritmo destas paragens de ardências de sóis alentejanos, o mais perto de áfrica que temos por aqui.

 Apetece é entrar na onda, na música escaldante desta escrita, comungar uma resposta – minha alma se emprenhou de você, como se nunca eu tivesse lido tanta poesia na vida, tanta alma de mulher e de homem doentes, porque vivos, sofredores, que uns com os outros se matam, se fornicam, se amam como todo o amor pode ser, fatal.

-Aqui é que é o inferno, como ouvi tantas vezes dizer. Um inferno de algodão doce.

Mia não é um escritor, nem biólogo. A caminho de ser médico é muito capaz de ter entendido como isso não lhe bastava, ser um feiticeiro do sistema. Mia é bem mais que isso, ele é um mágico, um artesão das palavras, um escultor de almas.

Como a de Maria Metade, a mulher de Seis, a que nunca foi, “ nunca fui eu, nem dona, nem senhora.” ,  a que desconcebeu e “ sendo metade, sofria pelo dobro. ”, a que convida o “doutor escritor” a sentar-se a seu lado, a ver como  o  homem dela  finalmente a olha nos olhos “ Só para mim, só para mim, só.”

Quem me dera ser , nem que fosse  apenas a Metade, a mulher de Seis, pra você me mandar meia carta . Só para mim.

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