março 03, 2010

E se trocássemos umas idéias sobre o assunto?

Mais um autor escolhido ao acaso; uma vaga idéia de que era de esquerda, do pc, ou coisa assim.Ao acaso, entre comas,nunca um autor é escolhido pelo leitor ao acaso, não é assim, caros editores? Um livro tem de ser alguém com quem gostássemos de ir tomar uma bica, ou até nos sentíssemos compelidos a convidar para jantar, quiçá no remanso do lar, a comer um prato que já tivéssemos experimentado, não fosse o diabo tecê-las… ou a beber um bom vinho, caseiro, de preferência.
Sr. Mário de Carvalho
Afinal, você ainda é capaz de estar vivo.Nasceu uns anos antes de mim.Acabou o curso quando eu entrei.Deve fazer parte dos amigos de Soares. Eu, mais dos amigos de Alex.O seu livro fez-me rir, sorrir e quase chorar, o que não é difícil, verdade seja dita.
Gosto da maneira como olha as pessoas, as faz cruzarem-se, como num palco ou numa tela.
Era Bom que Trocássemos umas ideias sobre o Assunto – Romance 2ª ed. (Caminho, 1995) aproxima-me de cenários habituais, reconhecíveis, o truque de muitos contadores de estórias que nos caem no goto. Olha, isto é Lisboa, já vi este prédio; afinal este gajo é do meu tempo.
Sinto-me tão ignorante quanto a Eduarda Galvão-mas não tão esperta, nunca aprendi a dar golpes baixos nem a fazer olhinhos para subir ou descer na vida. O Jorge, coitado, tão boa pessoa, aposto que foi ao enterro do Cunhal e fez bem…apesar de todas as reticências temos que nos agarrar a alguns rituais. As reuniões “ às quintas” fizeram-me lembrar a Maçonaria--o pouco que ouço sobre isso.Em relação ao Stross, é provavelmente a personagem com quem mais me identifico - hoje, amanhã não sei. A derrocada total e sistemática do mundo sonhado, a clara de ovo que espalho na cara de manhã, quando estou de férias, para disfarçar os pés de galinha…
Imagino-o a ler esta mensagem. Não é muito provável que se lembre do que escreveu, não é assim? Deve estar p´raí a pensar. O que é que esta quer?
Nada de especial, ou antes pelo contrário, uma especialíssima razão: preciso de um interlocutor - leio um livro, vejo um filme ou vou a um espectáculo como se lá estivesse dentro, se gosto, claro. Gostei.
Tchau e beijinhos.
A propósito, esta questão, para quem se escreve e por que nos lemos, cada vez mais obsessiva e ao mesmo tempo inútil se apresenta ao meu espírito, claudicantemente pensante.
E se* trocássemos umas idéias sobre o assunto?
* pequena provocação para as meninas de letras, e não só.

10 comentários:

  1. E se antes de nos interrogarmos sobre para quem escrevemos, tentássemos descobrir porque (por que) escrevemos?
    Qual será a pulsão arrebatadora que nos conduz à escrita?
    Com esboço de resposta, deixo aqui algumas palavras de Rosa Montero, extraídas do livro «A Louca da Casa»:

    «Primeiro, a inquietação e a incerteza, ou seja, esse desajuste com o meio, essa incomodidade, essa inadaptação...»

    «Escrever salva-nos a vida. Quando tudo o resto nos falha, quando a realidade apodrece, quando a nossa existência naufraga, podemos sempre recorrer ao mundo narrativo.»

    «A escrita é um esqueleto exógeno que nos permite continuar de pé ortopedicamente quando, sem isso, seríamos uma gelatina derrotada, uma massa mole esmagada no chão.»

    «Escrevemos para nos expressarmos, mas também para nos olharmos num espelho e podermos reconhecermo-nos e compreendermo-nos.»

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  2. É que para a pergunta "por que razões escrevemos", tenho já encontrado algumas respostas. A tal pulsão que a Rosa Mantero refere,vai uma pessoa trabalhando ao longo da vida. Só que ela parece restringir o acto criativo, a momentos em que a nossa existência naufraga e , para mim, isso não é verdade. A criatividade não cessa nas " claras águas do mondego" embora possa ser "um caminho para a cura" para esses momentos, uma ajuda para nos "vermos ao espelho". Daí eu ter escrito há dias, por aí, que sim, os livros são consultórios com páginas, para quem escreve e para quem lê.Agora , quando um escultor coloca pedra sobre pedra, é para si , é só para se ver ao espelho, ou é também para alguém, uma partilha, um convite ao prazer, à dor, ao asco,à revolta, ao sangue e etc...?

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  3. Será assim tão importante haver uma razão para escrevermos?
    Eu, por exemplo, sou uma rapariga das letras, mas escrever não é comigo. Porquê? Because! O mesmo, creio, acontecerá com os que gostam de escrever e o fazem simplesmente porque sim.
    A única coisa que me importa mesmo é que escrevam bem e continuem a dar-me o privilégio de os ler. As razões não me dizem grande coisa...
    Serei uma cínico-céptica? ;-)

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  4. Já agora, sabes a origem da palavra claudicar? Tem uma história engraçada...

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  5. Cara tornicotete

    Se não soubesse , ou não julgasse que sabia, não a teria utilizado.
    Se bem me lembro está relacionada com claudio,o imperador que "claudicava" ao andar.
    Queres acrescentar algum outro sentido?

    Sobre a importância das razões,é um vício e um jogo. Pois , escreve-se porque sim, because, como dizes, mas achas que "para alguém" ou para "o vento que passa"?

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  6. Para o «vento que passa» porque nos pode levar as palavras até alguém...
    Pelas razões de que fala a escritora acima referida.
    Também porque simplesmente gostamos de escrever. Porque nos viciámos neste jogo de juntar letras e palavras umas às outras e com elas construir histórias...

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  7. A livro comparação entre um livro e alguém com quem gostássemos de tomar uma bica não é boa. Para valer a pena ler um livro não é indispensável que gostemos dele: ao ler o que não gostamos treinamos o espírito crítico e adquirimos termos de comparação úteis para apreciar aquilo que gostamos, entre outras coisas.

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  8. A ler, a ver, a viver o que não gostamos aprendemos imenso; mas prefiro ler livros com que gostasse de tomar uma bica. Há registos que já não estou para aturar.Podia mencionar vários, como por exemplo a MFM,cujas iniciais não desvendo por também preferir nem falar do que detesto... Felizmente existem muitos mais com quem gosto de estar, nesta intimidade que é a leitura.

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  9. E neste meu passeio pelos blogs da Joana Padrel achei graça deparar com este. Achei graça porque, no sábado, aquando do apresentação das suas NOVELAS SUBURBANAS deparei com uma amiga que quis ver o livro do Mário de Carvalho que eu acabara de comprar. Disse-me ela não conseguir ler o Mário de Carvalho. Recomendei-lhe precisamente a leitura de E SE TROCÁSSEMOS UMAS IDEIAS SOBRE O ASSUNTO!

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    1. Gosto muito de Mário de Carvalho . Tão perto de nós. Não tendo aprofundado a cultura clássica , tenho algumas vezes que "investigar" referências que desconheço ( o que não acontece em "E se trocássemos....".

      Mas investigar é preciso, para saber mais...

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