março 31, 2010

na reitoria os presniakov , ávila costa e o querido zé lopes no aquecimento ou para que não se divorciem

Não, não deixei este blogue. Já basta de divórcios na minha vida. O mais difícil foi o divórcio de deus, que já ocorreu mais do que uma vez. De facto a minha história de amor com deus tem sido aquilo a que vulgarmente se chama uma relação de amor-ódio. Não sei porque é que estou a falar de deus, quando a minha intenção era completamente outra. Deus, que se existisse não era para nos atazanar a cabeça, deus pai. A deusa, que a coabitar connosco, seria para nos alimentar. Mãe natureza, pai tirano, deus sol, deus su. A ética e a moral dos povos. Terá sido depois da morte de deus que elas desaparecem da face da terra que eu conheço?

Não creio que o homem seja essencialmente bom ou essencialmente mau. A organização social? As instituições? Valia mais não institucionalizarmos nada? Olha as igrejas, olha a escola, olha os casamentos.


Ontem fui ao teatro. Ouvi queixas de encenadores acerca desta falta de rigor e amor pelo trabalho, desta incapacidade de entender que a obra perfeita, acabada, exige que todos, desde o carpinteiro à estrela pop-ou-não-pop, se responsabilizem por fazer mais e melhor todos os dias. Sim, devemos trabalhar para a perfeição de que sabemos ficar sempre áquem; por isso é que voltamos lá, sistematicamente. Posso fazer melhor, eu sou melhor do que isto.
Surpresos, no mínimo admirados, quando vimos actores de auspicioso futuro, num ensaio geral com público convidado, sem o texto na ponta da língua, com as quebras de ritmo consequentes, e incapacidade para dar a volta ao texto no caso de a memória os atraiçoar. Actores jovens, como aqueles com quem tive oportunidade de contactar ao longo de um casamento falhado com o teatro (mea culpa, mea maxima culpa, a adúltera fui eu), que dão o litro para serem seleccionados, nos fazem perder tempo nos castings, e, ao longo da preparação do espectáculo vão demonstrando a máxima incapacidade para o sacrifício, para “frequentar “ as sessões de “aproximação ao texto”e para decorar o dito. Actores que falham os ensaios, (muitas das vezes o desgraçado do encenador só consegue reunir a malta toda na véspera da estreia) e que não encontram a personagem. Pois se não a procuraram! “Ficam-se pela Floribela”, esbravejava   o nervoso encenador. 


Não deviam os artistas em cima do palco agradecer estas encenações grotowskianas que os colocam a eles no centro de tudo? Que lhes permitem viver a aventura de ser vários, intensamente? De ter ao seu dispor um texto denso cheio de alusões irónicas muito  sérias e críticas ao mundo em que vivemos? De ter a oportunidade de passar essa mensagem a outros, seja a quem for?  


 Como é que uma pessoa não se empenha naquilo que lhe dá prazer? Será que esta gente sabe fazer amor?

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