um
namorado, um pai, um irmão, um amigo na guerra, não havia quem não tivesse. o
maior medo era o da morte. voltarem estropiados do corpo ou da alma, não nos
ocorria assim tanto. medo de comprar certos autores, certos títulos, ou de os
vender, o livreiro olhava-nos nos olhos, venda, que eu não digo nada a ninguém,
mas ele ficava-se por ali, medo de que fossemos da pide, não temos, não. medo
de publicar o que escrevíamos, podiam não gostar de nós, pior ainda, cortar,
cortar, cortar, silenciar o pensamento. medo de ir ao médico, podíamos estar grávidas
e ter que decidir abortar em segredo. medo de falar, que as meninas decentes
não existiam para ter ideias, medo que o nosso pai fosse preso, uma vergonha,
que o nosso irmão desertasse ou se perdesse pelos montes cheios de neve antes
de chegar à fronteira. medo de ouvir conversas, quanto menos soubéssemos
melhor. medo de quem entrava na nossa casa, à despedida podiam puxar de um cartão-de-visita,
se precisar de alguma coisa, por baixo do nome, a sigla, pide- dgs, como se não
fosse nada.
no
limite do medo, quando a mordaça ameaçou matar-nos e nós decidimos viver, dando
a própria vida caso fosse preciso, muita gente se juntou, para que nunca
mais houvesse medo.
Comovente e verdadeiro!Era assim, ainda me lembro do dia em que me passaram sorrateiramente panfletos subversivos e eu os li rápidamente no WC do café onde parava.Saí da casa de banho e alguém cravou os olhos em mim, como se soubesse o meu pensamento.Era o tal que diáriamente abancava na mesa do canto, sózinho, calado, observando entre muitos cigarros a malta.Sempre o julgámos da PIDE, afinal não era, vim a saber mais tarde! Passaram-se semanas antes que libertasse da ideia o medo de ser preso.
ResponderEliminarO país era uma prisão, as cabeças os carcereiros, o medo de ser ouvido, espiado, perseguido, preso, submetia-nos.Contudo, havia os resistentes, os que tinham medo mas não se submetiam.Como o Luís da livraria Ler, em Campo de Ourique, numa das esquinas do jardim da Parada, que guardava escondidos os livros proscritos pela censura, que ele considerava importantes para a formação politica e humana da malta.Depois eram-nos vendidos a prestações, pagávamos conforme íamos recebendo as mesadas.Apesar da PIDE lhe vandalizar a livraria, das apreensões de material e autos sem conta, nunca o conseguiram dobrar, ao Luís.
Este povo que teve esperança com o fim da ditadura, presentemente tão mal tratado, teve os seus "heróis", e há-de continuar a tê-los, make no mistake about it. Só é preciso é que a tampa da panela salte, que os mais esclarecidos se oponham como então, e se revoltem contra a reedição de medos anteriores.
ou de os vender, o livreiro
ResponderEliminarolhava-nos nos olhos e via ou não se eramos daqueles que eram capazes de dar o triplo ou o quádruplo por um livro apreendido e que a Pide e outros actores das oficinas de cortes de papel disponibilizava em lotes de 30 ou 40 aos alfarrabistas da praça
os livrinhos do vilhena atão...
e os mytos creados
o livro não se vendia
e o livreiro dizia é dos últimos foi apreendido
até dizem que um editor lisboeta pagava para lhe apreenderem uns avos da obra
quanto ao medo existia como inda existe
a capitania de évora até ao porto nã era assi tanta
ResponderEliminare só os spinolistas eram mais de 2/3
e os milicianos por razões óbvias ficaram fora
sargentos recém promovidos a tenentes em 60 e tal e capitães em 74 só havia 5 ou 6
logo tanta gente adeviam ser menos de duzentos e poucos
muita gente pra derrubar um regime
com os magalas a irem servir de tiro ao alvo em lisboa em vez de seguirem para áfrica...
em 5 de outubro havia muito mais...
depois do dobre de finados é que se juntou muita gente
mas o regime já tinha caído horas antes
sem um paiva couceiro que o segurasse
caro se bem se lembra e está esquecido:
ResponderEliminarSe bem se lembra " nunca tão poucos"
foram os que derrubaram o regime, é a sua versão dos acontecimentos e tem todo o direito.
Não tenho números,provavelmente esses poucos valiam por muitos mais, conheci alguns, antes do dia seguinte.
caro excessivo
ResponderEliminarClaro que os livreiros poderiam fazer essas fitas de que fala.
O seu excesso pode levá-lo a considerar o medo de ontem igual ao de hoje.
POR ENQUANTO ainda não, por isso devemos falar dele.