Há
gente que queríamos que não se fosse embora. Pessoas com quem pudéssemos estar,
agora. Mesmo que só as víssemos pela
televisão , em debates assanhados no Parlamento , contra a mediocridade e o
pacovismo das idéias.
Mesmo que não fosse ao vivo, mas pela boca de
outros que ouvíssemos comentar - de como tinhas sido tão bonita, da boquilha ,
das tertúlias, das conversas no Botequim.
Todas
as tuas palavras foram benvindas. Assim como a tua presença, o teu corpo, a tua
voz e o modo como não desististe de a usar.
Lembrei-me de ti por causa das mulheres, confesso.
E acho que temos boas notícias – estamos praticamente no dia em que não vai ser
preciso falar mais disto, do dia da mulher – mulheres e homens, somos todos
juntos. Até porque a tua reflexão, essa sim , é completamente actual.
O
SOL NAS NOITES E O LUAR NOS DIAS
"No topázio mais triste da minha clarividência, apareceu-me o anjo do Ocidente. Tropeçava de sombra em sombra e a espada com que guardava os jardins com buxos de livros da Europa despedaçara-se em números que espavoridos fugiam uns dos outros. Um horizonte de canções blindadas cantava a parábola das cidades brancas cobertas por noites laboriosas de formigas. As estátuas cambaleavam no alto de temerosos pensamentos. As catedrais eram levadas por um vento de elevadores endemoninhados. Mulheres a arder em revistas ilustradas faziam strip-tease para latas de conserva boquiabertas. E a Europa fugia para trás. Fugia parada na louca pulsação do seu movimento estático. E a Europa era a triste viuvinha no meio de uma roda de crianças que matavam índios num filme americano.
Desatei então a correr para o sítio onde se chora. O sítio onde se chora é na penumbra pensativa. No quarto de estalactites da alma onde se fazem poemas. Mas notei que no meu pranto faltava uma lágrima e essa lágrima era Portugal. Percebi finalmente que Portugal era eu a chorar trevos de cinza pela Europa."
Natália Correia
Sem comentários:
Enviar um comentário