abril 04, 2011

francisco josé viegas, vendedor de ansiedades


Cinco da manhã e eu aqui a pensar como classificar a enumeração, que fjv abundantemente usa e se o que provoca no leitor terá sido estudado, pensado, conversado com quem percebe do corpo humano. Se se trata de um truque racional e se é isso que faz do seu uso um recurso estilístico ou se, sendo espontâneo, do domínio da intuição, da inteligência emocional, já não o possa ser.

  Até que ponto pertence ao autor a escolha consciente de uma figura de estilo, ou será o leitor, mais ou menos crítico, a querer à viva força, escalpelizador de almas, descobrir-lhe todas as intenções e a inventar classificações para o não classificável, por que infinitamente simples. A mania das perguntas, de tentar descortinar os sorrisos de Giocondas.

O que acontece é fazer fjv com que o leitor suspenda a respiração e se aguente. Por vezes por um tempo quase insuportável. Uma atmosfera sufocante por parágrafos sem fim e quando, duas páginas depois, expiras, desejas imediatamente voltar ao mesmo (pgs. 95,96,97) .Ou seja, esta leitura torna-se um vício, estás agarrado. Será este o princípio da ansiedade e ele vende ansiedades. Porque se pensas que não gostas de policiais -  este é um policial à Frank McCourt,  o humor com sotaque , numa atmosfera Conradiana, que fjv aliás, refere   -  vais ter de te render à evidência.

Terá este homem inventado a enumeração suspensiva? Na realidade não sei em que prateleira devo incluir isto.
Cá eu só queria escrever um post, não uma tese. Poupo-vos os caminhos e os indícios das minhas verdades.

Ficam algumas razões para que  não passem  ao lado de Longe de Manaus.

Se faz sorrir o leitor, mais propriamente esta leitora, senhor autor, missão cumprida.

Impossível ficar indiferente a:
Receita de arroz de bacalhau (pg.198) e uma outra de Porto com água tónica que Jaime Ramos, como bom português que não aceita qualquer modernice, não parece apreciar.

 Sobre as mulheres – os rabos das juízas, das bibliotecárias, das professoras quarentonas (pg. 200). 

E o que Daniela acha dos homens? Os homens são uns babacas, o que será um babaca? Com certeza alguém não muito inteligente, de olhar infantil ou com aquela importância idiota, como ele classifica os seus congéneres lá mais para o fim da história.

Já me esquecia, há também  esta coisa tão clássica, a viagem, o sítio onde se aprende, e tão moderna, a mobilidade fácil deste sec. XXI no  planeta global.  A viagem pelos continentes, pelos linguajares, um leitor português ouve as palavras, o balanço da frase – do Brasil, de Angola, de Portugal. 

É uma escrita dos sentidos que se empenha em não te dar tréguas para resolveres o enigma que vais resolvendo, “despacio”, passo a passo.

1 comentário:

  1. Não sei se é isso,não li,mas que está bem pensado e escrito,está!

    Octopus

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