fevereiro 03, 2011

mia couto

 
Posted by Picasa

Vamos e vimos de Jesusalém também pela mão de Sophia, sim essa, a nossa Sophia.

Mal de te amar neste lugar de imperfeição / onde tudo nos quebra e emudece.

E a poesia continua.
Jesusalém, a terra onde é proibido mencionar os antepassados que ficaram para lá do rio Kokwana (que significa avô). Contudo, não será indiferente seres nascido e criado do lado de lá. Jesusalém, o sítio para onde Silvestre decide degredar-se com os seus dois rapazes – Ntunzi que, pelo menos na sua fantasia, ainda tem memória da mãe e Mwanito, o mais novo, para quem apenas uma impressão,um cheiro,o pressentimento do que ela terá sido persiste.
Mas no teu corpo ficam inscritas as memórias do sentir. Como na canção de Chico Buarque, no teu corpo, feito tatuagem.
Quem és tu Ntunzi, o que nasceste do outro lado, ou o que bebeste de todo este lugar onde cresceste, te construíste um sítio que não conhecias, como quando da terra te debruças para outros planetas? E tu estrangeira (Marta), que da Europa aportaste à costa Africana e te diluíste nos seus deuses e “acreditares”?

Mulheres são como as ilhas: sempre longe mas ofuscando todo o mar em redor (pag. 62). O feminino como elemento de ligação, de salvação, a deusa. E a leitora agradece, lá está ele a cantar-nos a canção do bandido, como numa cantiga de amigo, ai. Os olhos de quem se ama nunca se vêem. Explica Ntunzi a Mwanito que nunca viu mulher nenhuma. E sobre as negras, Marta, em quem o autor se transveste – “Elas moram em cada porção do corpo” (pag.143). E há homens que dizem – sou macho, mas sangro como as mulheres. E se reivindicam da paternidade, como Silvério “ o meu sangue é que faz correr o seu sangue, sabia?
E pergunta Mia, o autor/ narrador – Por que não se rebelam? E pela voz de Noci, a mulher africana – Porque aceitamos tanto, tudo? – Uma mulher não pode existir sozinha, responde Marta, ou se converte, para tranquilidade de todos, numa outra coisa: numa louca, numa velha, numa feiticeira (pg.264).
 Tema que ainda não foi aclarado, nem do lado de lá, a sociedade africana moderna, nem do lado de cá, esta Europa de tantas emancipações.

Uma única certeza: acerca da intenção de um autor nunca teremos a certeza de nada, apenas a aproximação individualíssima da impressão do leitor.

1 comentário:

  1. sabes o que me trava um pouco a leitura dos autores africanos? os nomes, nunca consigo fixá-los. e os moçambicanos inventam nomes e palavras a toda a hora, começa com o título. despertou-me a curiosidade.

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