maio 06, 2017

um padrinho chamado Zeca



   Era com um brilhozinho nos olhos que lá em casa ouvíamos aquele nome. O Zeca traria à mistura lembranças de outros tempos, qualquer coisa de aventura que nos faria sorrir- histórias que dificilmente imaginaríamos, do tempo de liceu do pai, das tias e tios.  
 Agora, que já quase não há quem o possa contar, é do próprio Zeca que vou recebendo diligentemente mails com o registo de mais memórias -  não me abstenho de acrescentar o meu sorriso ao tom irónico de uma narrativa repleta de ternura ou de saudade. Muito ao longe, não sei bem de onde, vou escutando as gargalhadas cristalinas da minha mãe, e, no seu olhar secreto, o sorriso   complacente do meu pai. 

Aqui uma breve aproximação às memórias do Zeca, homem das sete partidas que aparecia de vez em quando e me oferecia Eau de Rochas, a água de Colónia que, como ele, ainda trago comigo. Episódios picarescos do tempo em que José Orlando Antunes da Cunha teve de equipar a casa de família, no Brasil.

Os mal-entendidos linguísticos gerados na mente de um português trazem sempre consigo um sorriso (de irmãos, claro) :

  o condutor do táxi
 

  Na última visita, demorei mais de uma hora. Quando voltei ao táxi, o condutor quase cuspia fogo ao dizer-me "O Siô quebrou o seu galho, e agora quem quebra o meu?”. Como não entendi o que ele me disse, apaziguei-o dizendo-lhe que lhe dava uma boa “grana” ao que ele respondeu “assim vai melhor". Mais tarde, “traduziram-me” que, quebrar o galho, quer dizer resolver um problema. Então, o que ele disse foi, "O Sr. resolveu o seu problema, e agora quem resolve o meu?" 

 comprar camas

 O empregado perguntou-nos se queríamos “criados mudos” juntamente com as camas. Demorou até decifrarmos que criado mudo é a mesinha de cabeceira.

 ventoinhas

 Ficámos perplexos quando dissemos que queríamos "ventoinhas", e o belo do empregado disse que estavam em falta, isto é, que na altura, não havia. Eu não queria acreditar no que estava a ouvir, porquanto essa loja não tinha mais nenhum artigo eléctrico senão ventoinhas, em vários tamanhos e até em várias cores. Quando eu disse “Você está brincando comigo pois não tem nada mais senão ventoinhas” ele respondeu: «Ah o Siô quer ventiladores».

despedida

Ao partir de Porto Alegre  José da Cunha relata a reacção do farmacêutico que o servia habitualmente e de quem se vai despedir  "Olhe que eu falei sempre com você em português, porque desde o primeiro dia achei que você, como Argentino, falava português, embora com algum sotaque”. 


 E o Zeca calou-se. Não teve coragem para confessar que era português.








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