janeiro 22, 2016

conversa amarga com Eugénio de Andrade



amargo amigo Eugénio
   
Que lástima
 ter feito a faculdade da mediocridade
 e ter ficado calada
quando a palavra poeta trazia um sorriso inclinado

ai  que muito me tarda
o amigo que não cheguei a ter
a conversa de passagem reduzida ao silêncio da conveniência
não ter gritado mais alto
prá solitária folha que ninguém chegou a ler

 – Quero ser lido e admirado, aqui. -dizes tu, meu amigo que não conheço
a quem visito as palavras quando estou só


As tuas mãos e os frutos
 e o meu fruto é ácido
como os olhares de certa gente ao ouvir a palavra poesia
sim , queria ser lida, mas não admirada por  estes que desprezo
um desprezo infinito que no dia a dia se agiganta
por na liberdade nada ter  acontecido

nem a água correu em cascata a lavar as almas
nem o fogo rebentou a carapaça da estupidez
nem a chuva levou a maledicência ou a intriga
nem dela um rio de águas claras brotou
que apagasse as pegadas das patas antigas
e permitisse a dança das asas por que tanto esperámos
o voar , o voar pelo sonho adiante e prometido

nem das nossas lágrimas se fez nenhum rio
apesar de toda a morte que chorámos
e do desejo de ter um amigo –como tu. 

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