setembro 22, 2015

Ruy Belo, TALVEZ UM DIA EU ENTRE NO CINEMA





Cinema Medeia Monumental
Segunda, 28 de Setembro, 21h

sessão especial RUY BELO
RUY BELO. ‘TALVEZ UM DIA EU ENTRE NO CINEMA’*
Leitura de poemas pelo actor Pedro Lamares
António M. Feijó: "A Deanie Loomis de Ruy Belo"
"O lugar onde o coração se esconde"
(projecção de um curto filme de Luis F. Lindley Cintra com Ruy Belo e Teresa Belo)
Intervalo
ESPLENDOR NA RELVA, de Elia Kazan
* ”Sim pode ser talvez um dia eu entre no cinema
como quem entra decididamente num país”
Ruy Belo, "Meditação Anciã", in Toda a Terra, 1976

bilhetes: 3 euros 
A maior parte dos poemas que serão lidos nesta sessão especial sobre a relação da poesia de Ruy Belo com o cinema pertence ao livro Homem de Palavra[s] (1970), onde, como o poeta afirma, na “explicação preliminar” à 2ª edição (1978), “a influência do cinema é notória […] mais do que em qualquer outro [livro seu].” E acrescenta: “ ‘Humphrey Bogart’ e principalmente ‘No way out’, ‘Vício de matar’ e ‘Esplendor na relva’ são poemas onde o cinema me ensinou a ver. No meu livro Transporte no Tempo ainda aparecerá “Na morte de Marilyn’ […]
Ninguém, no futuro, nos perdoará não termos sabido ver, esse verbo que tão importante era já para os gregos. É de notar que, em ‘Esplendor na relva’, se recolhe o momento preciso em que Natalie Wood, actriz maravilhosa, que no filme encarna a delicada e fresca figura de Deanie Loomis, muito bem dirigida por Elia Kazan, procura em vão comentar numa aula um excerto de um poema de Wordsworth sobre a fugacidade da vida e a necessidade, como condição de felicidade, de colher a flor no próprio instante em que floresce. Em ‘No way out’, avulta o sentimento da pequenez humana ante os problemas mundiais. O real, o mais real, é o homem. Recorro, para isso, à antítese: ‘a dois passos de mim’ – ‘em beavar canal’.”


“ ‘Eu sei que Deanie Loomis não existe /mas entre as mais essa mulher caminha / e a sua evolução segue uma linha / que à imaginação pura resiste.’
Começa assim o soneto intitulado ‘Esplendor na relva’, que Ruy Belo inseriu em Homem de Palavra[s]. Deanie Loomis (aliás Wilma Deanie Loomis) é o nome da protagonista interpretada pela fabulosa Natalie Wood. O pretexto (em sentido literal) é o filme de Elia Kazan Splendor in the Grass (1961), com argumento de William Inge.
Hoje, o filme ganhou ressonâncias míticas, associado aos idos de 60 e aos Maios de tal década. Na altura, não as teve […] mas para alguns – poucos e certamente não felizes – foi paixão tão devastadora como a que, no filme, os adolescentes Deanie Loomis e Bud Stamper (Warren Beatty) tiveram um pelo outro. Ruy Belo foi desses. Aliás, não certamente por acaso, foi ele o único poeta que conheço a cantar as duas mulheres mais intensas dos late fifties e dos early sixties: Marilyn Monroe (esse assombroso poema chamado ‘Na Morte de Marilyn’, que vem no Transporte no Tempo e em que nos pede para ‘em vez de Marilyn dizer mulher) – e Natalie Wood.
Eu sei que Ruy Belo não cantou Natalie Wood mas Deanie Loomis. Mas também sei que Natalie Wood ‘não existe / mas entre as mais’, etc. e há nesse verso um prodígio de adequação poética. É quando se diz que ‘a sua evolução segue uma linha / que à imaginação pura resiste’. Resiste à ‘imaginação pura’ (no sentido de ‘pura imaginação’) ou resiste, ‘pura’, à imaginação? Ou seja, o adjectivo ‘pura’ refere-se à imaginação ou a Deanie Loomis? Ou – pode ser também – à ‘linha que resiste’? Nestas três perguntas está o cerne de Deanie Loomis, de Natalie Wood e de Splendor in the Grass. São mulheres e filme da nossa imaginação? Ou são mulheres e filme que resistem à nossa imaginação? Ou são mulheres e filme que resistem a uma linha evolutiva que só na nossa imaginação existe? Não sei, como provavelmente Ruy Belo não saberia, mas como também ele escreveu (na ‘explicação preliminar’ à 2ª edição do livro): ‘Ninguém, no futuro, nos perdoará não termos sabido ver, esse verbo que tão importante era já para os gregos.’ E, em Splendor in the Grass, tudo está no ver, que traz a história dos meninos e moços de Kansas – meninos e moços dos anos 20, de antes da Depressão – à dimensão das mais belas histórias de amor e de morte jamais contadas.”
João Bénard da Costa, Os Filmes da Minha Vida, os Meus Filmes da Vida, 1º Vol. Assírio & Alvim, 1990

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