Gosto de partir virgem para um
autor, não saber nada ou quase nada sobre ele, nem onde nasceu, onde estudou,
se foi casado ou solteiro. Ainda menos se terá votado neste ou naquele partido. Para voltar a sentir a febre que
senti com Faulkner, a primeira vez, Faulkner literalmente febre. Infectada por
esta doença incurável , este vírus que só acalma ,não quando o livro se acaba,
mas quando se pega no lápis ou na caneta e se transfere para um rascunho mal
amanhado a impressão sobre o que se leu, ou seja, o que a gente leu, com os
nossos olhos apenas, nós e o livro que lemos. A partir desse momento vamos ter uma conversa
frente a frente com o autor, esse desconhecido, esse labirinto que teremos
percorrido com deleite, de luminosos dias, de feridas abertas ou equimoses, as
várias vidas a que ele nos terá transportado, ou não. Antes e depois de
Faulkner, quantas florestas não teremos desvirginado. Pois uma delas, Laborinho Lúcio,
no início do Verão, que entretanto esqueci mas que tive de relembrar – o tal
rascunho mal amanhado – para a sessão do
grupo de leitores da Biblioteca de Oeiras. Vá lá, o que eu tinha entendido não estava assim muito longe do que outros leram. Suspiro
de alívio – Uff!
A qualidade do discurso, o registo poético, as metáforas, as ternuras, as
loucuras. E o fio narrativo? Ser ou não ser um romance, eis a questão. A alguns
isso não incomoda por aí além, mas é tentador discutir, porque lhe chamam
romance, podia ser um livro de memórias, uma série de contos ou crónicas , impressões.
Mas há um fio condutor? Será o teatro? O encenador?
As dúvidas não acabam e há logo
quem acrescente pormenores sobre a vida do autor, estudos em Coimbra ...
Esta obra de Laborinho Lúcio é referida como «
ficções». E é disso que se trata . As discussões a que nós voltamos sempre –
sobre a forma, são importantes sim. O
romance já não é o que era ,não , nem se mede pelo número de páginas, não ,
como se ouve às vezes dizer ( até no meio de gente muito sabichona ou sabedora)
– size counts?
Aqui mesmo à minha frente, está
um livro desses que dão febre- Camus. E muito perto, outro, de Joseph Conrad, O
Coração das Trevas, 126 páginas. Mais acima Virginia Woolf, Joyce, discurso
interior, mergulho introspectivo ou simples jogo da memória, prolepses e analepses
. Isto é ou não é literatura?
Estamos na mesma? Recorre-se ao curriculum
profissional do autor, terá sido Ministro- o gossip
habitual – estou a ser injusta, – não só, os leitores procuram explicações, na cabeça de um tinhoso, como se diz em
Campo de Ourique.
Vejam o que Yudith Rosenbaum,
também apaixonada por o que se lê e como se lê, cita ( Clarice Lispector)
e Alberto Pimenta, ( Hayman)
Na casa dos segredos das
tertúlias da arte, inovar sai caro, muitas vezes se ouve – A bolsa ou a vida?
Saímos muito depois da hora. É
por isto que eu gosto do meu grupo de leitores, meu não, do Bruno.
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