setembro 27, 2014

CAROLINA MARIA DE JESUS - O colono e o fazendeiro





Foi Rafaella Fernandez a  convidada escolhida pela Mapa para  apresentar Maria Carolina de Jesus (n. 1914) celebrada agora no Brasil.

«Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960. Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países».

Carolina passava fome e ficou-se pelas primeiras letras. A sua biblioteca, os livros que apanhava no meio do lixo, que «catava» para vender a peso, a sua fonte de proventos para dar de comer aos filhos. No barraco sem água e sem luz, acordava de noite para ler e escrever à luz da vela. 

 No Portugal «desfavelado» – Haja deus! Os mais jovens não terão memória dessa paisagem de barracas, de bairros de lata que rodeavam Lisboa, do aeroporto, à cidade universitária e se estendiam pelos arredores –. 

Pena que poucos se tenham interessado por lutar por mais alguma coisa que «a casa», que acabou por se transformar numa obsessão nacional e que toda a gente foi praticamente obrigada a comprar. Casa e poucos livros, que, arrumada a Primavera de Abril em Novembros sucessivos, a cultura e a escola exigiram que se formatassem os indivíduos para hábitos e literaturas que não abanassem o bem-estar de ninguém, muito menos o dos senhores dos gabinetes e das senhoras de saia e casaco. A ninguém interessou uma cultura verdadeiramente popular, não popularucha ou de telenovelas, uma cultura ao serviço do povo, desta mátria onde crescemos.Maioritariamente, apenas aos bem- de -vida e aos intelectuais do sistema tem sido permitido aparecer – em galerias de arte, em teatros anquilosados, na montra de livrarias que trabalham para “os mercados”.

 Não me venham falar da invasão das novas tecnologias, a moderna desculpa para não adquirir o gosto pelos livros, não entender a literatura. Todo o poder é avesso ao saber pensar, e assim, está tudo muito bem, esta relação comunicacional de mensagens e toques, que afasta as pessoas do prazer da leitura. O digital não é inimigo do livro, nem da cultura, nem o principal culpado do desinteresse das novas gerações pela literatura.

Não foram as máquinas que não quiseram ouvir, aqui na terra, nenhuma Carolina destas, apenas uma Eu Carolina, cuja obra, a passar para a história de alguma literatura, teria servido uma telenovela barata, que o que terá ficado por dizer a ninguém interessará. 

Então pensemos nesta Brasileira, no que ela pode representar, já que somos da língua portuguesa e isso nos une. Carolina Maria de Jesus tem sido heroína de feministas e de antirracistas, já lá vamos; para já vamos só ser irmãos na língua portuguesa e honrá-la, fazê-la crescer, com esta Carolina.



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