Foi Rafaella Fernandez a convidada escolhida pela Mapa para apresentar Maria
Carolina de Jesus (n. 1914) celebrada agora no Brasil.
«Quarto
de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960. Após o
lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares
vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países».
Carolina passava fome e ficou-se
pelas primeiras letras. A sua biblioteca, os livros que apanhava no meio do lixo,
que «catava» para vender a peso, a sua fonte de proventos para dar de comer aos
filhos. No barraco sem água e sem luz, acordava de noite para ler e escrever à
luz da vela.
No Portugal «desfavelado» – Haja deus! Os mais
jovens não terão memória dessa paisagem de barracas, de bairros de lata que
rodeavam Lisboa, do aeroporto, à cidade universitária e se estendiam pelos
arredores –.
Pena que poucos se tenham interessado por lutar por mais alguma
coisa que «a casa», que acabou por se transformar numa obsessão nacional e que
toda a gente foi praticamente obrigada a comprar. Casa e poucos livros, que,
arrumada a Primavera de Abril em Novembros sucessivos, a cultura e a escola
exigiram que se formatassem os indivíduos para hábitos e literaturas que não
abanassem o bem-estar de ninguém, muito menos o dos senhores dos gabinetes e das
senhoras de saia e casaco. A ninguém interessou uma cultura verdadeiramente
popular, não popularucha ou de telenovelas, uma cultura ao serviço do povo, desta
mátria onde crescemos.Maioritariamente, apenas aos bem- de -vida e aos intelectuais do sistema
tem sido permitido aparecer – em galerias de arte, em teatros anquilosados, na
montra de livrarias que trabalham para “os mercados”.
Não me venham falar da invasão
das novas tecnologias, a moderna desculpa para não adquirir o gosto pelos
livros, não entender a literatura. Todo o poder é avesso ao saber pensar, e assim, está tudo muito bem, esta relação comunicacional de mensagens e
toques, que afasta as pessoas do prazer da leitura. O digital não é inimigo do
livro, nem da cultura, nem o principal culpado do desinteresse das novas
gerações pela literatura.
Não foram as máquinas que não quiseram ouvir, aqui na terra, nenhuma
Carolina destas, apenas uma Eu Carolina,
cuja obra, a passar para a história de alguma literatura, teria servido uma
telenovela barata, que o que terá ficado por dizer a ninguém interessará.
Então pensemos nesta Brasileira,
no que ela pode representar, já que somos da língua portuguesa e isso nos une. Carolina
Maria de Jesus tem sido heroína de feministas e de antirracistas, já lá vamos;
para já vamos só ser irmãos na língua portuguesa e honrá-la, fazê-la crescer,
com esta Carolina.
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