agosto 15, 2013

Presença ,estética e liberdade



A única razão pela qual gostaria de viver para além da morte seria para aumentar o que sei; o pouco que sei reside em dois arranha-céus ascendentes – um constantemente supera o outro. Cada vez mais alto, o da ignorância.
E o que mais gostava de saber , era sobre aqueles em quem pressinto qualquer coisa de mim, que me iluminei deles pela epiderme do viver por onde andaram, pintaram , escreveram, e hoje se me colam à pele sem eu saber porquê.

Miguel Torga e Mário Eloy.

 Torga que abominava “ a caserna e o espírito de casta”
Torga, que pelos vistos terá sido nascido e sofrido na pequenez de um Portugal pequenino. Sim , este , o de Contos da Montanha, aquela humanidade tão simples.
Aos dez anos  despedido , mandado para o Brasil, sempre insubmisso.  “ Moleque de terreiro na Fazenda de Santa Cruz”  retorna , aventura-se   a fazer  o curso de medicina e consegue-o.
 Torga não desiste de descobrir a vida, talvez por uma insubmissão de índole, de se fidelizar a si próprio antes de a quaisquer outras fidelidades.
Vai lendo, pensando e escrevendo.Terá sido assim? 

 A literatura “ relevava do sagrado”. O artista ,“ o mais receptivo e perceptivo  dos mortais”.
 Ao artista –  a alguns, que agora passam fome e que   escolhem ser fiéis a si próprios – são confiadas mensagens dos deuses, quem sabe? 

São trabalhadores da arte todos os que recebem essas mensagens e as traduzem para outros. Daí a mão que pinta ou a que escreve tantas vezes parecer ser levada não pelo próprio, mas por outro.  O artista interpreta enunciados  que passam por algum filtro inexplicável de imagens , de sons, de idéias,  ou por um clarificador – isto soa um bocadinho a detergente, cá está um exemplo de frase não-estética –. “Explodia, entretanto, a dissidência latente entre os colaboradores e os directores da Presença, por “razões de discordância estética e razões de liberdade humana”.





Como eu gostava de ter estado com eles, ou de viajar a esse tempo.
Conhecer o Mário  Eloy, saber a história deste desenho, desiludir-me por ele ser mortal, afinal.
Assistir , mesmo caladinha no meu canto, aos argumentos a favor  de uma certa  estética e de uma  liberdade humana. Que difícil, descobrir qual a liberdade certa e a estética  adequada . 

 Ou vice-versa?


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