abril 25, 2013

A Batalha de Tabâto, João Viana


 

Alguém repetia a frase de Oliveira- não percebi mas gostei. Correndo o risco de ser considerada presunçosa ou de  ter a mania, disse que tinha percebido e tinha gostado. Tive a sorte de ter frequentado uma escola em que se encontravam  os tipos do cinema,com a malta do teatro. Os tipos do cinema eram seres mais ou menos macambúzios, embebidos em silêncios perturbadores, observadores. Os do teatro, uns espalha -brasas, perto de quem quase não havia sossego.

Agora percebo o que os leva a estar tão caladinhos, aos do cinema, eles vêem. Estão sempre a olhar, observam. Deve ter sido isto que conseguiu fazer João Viana para contar a história do soldado que existiu do lado errado da História, o pai de uma filha cuja mãe teve de a ir fazer a outro homem, mas nem por isso menos pai e ela menos filha, é a ele que ela escolhe para ir dar a sua mão em casamento.


África não precisa de ser olhada como um lugar exótico. África pode ser o lugar onde se tem todo o tempo do mundo, onde se sabe que por mais que se corra se chega sempre aonde se tem de chegar, ao fim. E quando se olha a vida nesta perspectiva, a vida e a morte, não quer dizer que nada valha a pena, o que se diz é que o que vale a pena, é o que importa. O tempo passa na mesma, não precisas de correr.O teu pai é quem cuida de ti, não o certo e seguro cromossoma. Para quem nada tem e ao mesmo tempo tem o mundo inteiro, a questão da transmissão da propriedade não deve fazer diferença. Ao ritmo que se quiser, ela será transmitida, está lá  –  a terra, os rios, o peixe. 


Que África tinha tudo a ver com esta forma de estar, eu já sabia. Que o nosso mundo, muito civilizado se tornou no oposto disto, eu já sabia. Mas nunca ninguém mo tinha dito desta forma tão silenciosa e bela, nunca ninguém tinha “perdido tanto tempo” comigo, a querer mostrar-me, por exemplo, aquela imagem das escadas do pequeno cais, os barcos vistos cá de cima  - eles dão um nome a estes planos, será picado, não interessa  -  eu sou só uma pessoa a ver um filme; e estava mesmo a precisar destas imagens, deste tempo, desta música, deste humor melancólico, destes contrastes de se viver à fome em sítios em que se inventou a agricultura há 4000 anos enquanto se fazia a guerra noutros lados. Precisava de tornar a ouvir que os homens são mesmo crianças, (como na conversa entre esta mãe e esta filha), gostam de construir brinquedos, não vivem sem brinquedos, fabricam-nos e transportam-nos para todo o lado, brinquedos de música e de guerra.


Caso queiram saber mais sobre este jovem realizador e este filme, um link anterior ao prémio da Berlinale.


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