abril 21, 2013

Pessoa e Gullar





Em fins de tarde como irá ser o de hoje,  não é difícil encontrarmos gente à volta de Pessoa, o Pessoa de bronze junto à Brasileira do Chiado .
 Há dias sentou-se um homem à beira dele- a quem terei roubado esta expressão tão íntima, não sei - . Pois, sentado à mesa de Fernando Pessoa estava um homem que mantinha uma conversa - falava ao telemóvel?  Conversa sussurrada, de interjeições, de que só ouvíamos uma parte. Mas era com Pessoa que ele televersava . Não era audivel a resposta do poeta, infelizmente. 

Também de Pessoa se conjectura, ainda hoje, ele não ter batido lá muito bem. Todos os  diferentes são  considerados loucos, e, no entanto , não há duas pessoas iguais. Para mim, Pessoa terá sido, quem sabe, um grande brincalhão," brincando tão completamente" que se farta de sofrer perante as tentativas sempre frustradas de se traduzir. 

Ele não sabe quem é , e vocês sabem?  Na busca incessante de se ver, ele  sofre-se e perde-se.  Traduttore, traditori, tenho ouvido dizer. Pois se nem a nós próprios nos lemos, como conseguimos ler os outros?



De  Ferreira Gullar, que explica a escolha do seu nome/ pseudónimo/ quase heterónimo - como a vida é inventada eu inventei o meu nome-  


Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte é estranheza

e solidão.

Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.

Uma parte de mim

é permanente

outra parte

se espanta.

Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.

Traduzir uma parte

na outra parte

que é uma questão

de vida ou morte

será arte?

(*)


* in, HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade

 




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