Em fins de tarde como irá ser o de hoje, não é difícil encontrarmos gente à volta de Pessoa, o Pessoa de bronze junto à Brasileira do Chiado .
Há dias sentou-se um homem à beira dele- a quem terei roubado esta expressão tão íntima, não sei - . Pois, sentado à mesa de Fernando Pessoa estava um homem que mantinha uma conversa - falava ao telemóvel? Conversa sussurrada, de interjeições, de que só ouvíamos uma parte. Mas era com Pessoa que ele televersava . Não era audivel a resposta do poeta, infelizmente.
Também de Pessoa se conjectura, ainda hoje, ele não ter batido lá muito bem. Todos os diferentes são considerados loucos, e, no entanto , não há duas pessoas iguais. Para mim, Pessoa terá sido, quem sabe, um grande brincalhão," brincando tão completamente" que se farta de sofrer perante as tentativas sempre frustradas de se traduzir.
Ele não sabe quem é , e vocês sabem? Na busca incessante de se ver, ele sofre-se e perde-se. Traduttore, traditori, tenho ouvido dizer. Pois se nem a nós próprios nos lemos, como conseguimos ler os outros?
De Ferreira Gullar, que explica a escolha do seu nome/ pseudónimo/ quase heterónimo - como a vida é inventada eu inventei o meu nome-
Uma
parte de mim
é
todo mundo:
outra
parte é ninguém:
fundo
sem fundo.
Uma
parte de mim
é
multidão:
outra
parte é estranheza
e
solidão.
Uma
parte de mim
pesa,
pondera:
outra
parte
delira.
Uma
parte de mim
é
permanente
outra
parte
se
espanta.
Uma
parte de mim
é
só vertigem:
outra
parte,
linguagem.
Traduzir
uma parte
na
outra parte
– que
é uma questão
de
vida ou morte –
será
arte?
(*)
* in, HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade
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