fevereiro 17, 2013

sandokan , bakunine e a incerteza do ser



Personagens que fingem não ser ficção outras que não assumem abertamente o facto de não passarem disso mesmo, deixando o leitor sempre na dúvida. Quem goste de ler  vivendo com intensidade todos estes papéis, acaba por correr o risco de perder o norte. Tudo pode ser e não ser, e para isso já basta a vida.

Confesso ter investido demasiado tempo a clarificar todas as ligações de Artur. Artur, filho de Beatriz, neto de Lurdes e José, e de Herculano, pai de Fernando, casado com Arménia. Oti, Gabriela, Vítor, Ivo, Judite, ciclo de amigos de que Joana, a desaparecida, faz parte. E senti-me Lurdes, a mulher que perde a memória. Mas a leitora preguiçosa ultrapassou esta primeira rejeição.



Ufff!  Terminei. Saí do murakami, das aventuras dos cinco, dos deuses do Olimpo , das trapaças dos policiais, das caixinhas infindáveis de suspeitas e documentos forjados que também podem não o ser, dos irmãos Coen, de filmes em que não estive. Incursões associativas tipo janelas do Windows,sempre mais uma para abrir, com vista para outra e outra- o what if até às últimas , infinitas consequências.
 

 O mais apelativo – as notas de pé de página que explicam o ponto de vista do autor, da mulher do autor, do editor, de sandokan e bakunine, do gajo da Papua-Nova Guiné. Sabe-te bem entrar no jogo do autor –  Bruno Margo a piscar-nos o olho , tu sabes que eu sei que tu sabes, e o leitor, por seu lado, com a verdade me enganas .

  Uma interpretação realista do pensamento? Sinto-me mais descansada, todos somos esquizofrénicos. Ou um retrato fantasista do real?

Tanta inovação é verdade? Não, admite o autor, (Bruno Margo) e aceito, a verdade não interessa nada, É mais um artifício desta comédia de enganos.

O jogo pode ser interessante? Muito, mas daqueles jogos que se vão aprendendo a jogar. 
E nem todos somos jogadores.


E não é que ,  abrindo as janelas que tenho por costume abrir, uma após outra , na ilusão de poder abarcar todas as opiniões e possibilidades de interpretação seja do que for,tropeço em guerras de alecrim e manjerona entre o conto e o romance , polémicas que acabam por confirmar a ideia de que ambos os géneros , sendo diferentes têm direito à vida – o romance, obcecado por incluir nele o mundo inteiro, correndo o risco de falhar, ao lado  do conto que consegue ver  um mundo num grão de areia, to see a world in a grain of sand ,  bela citação de Blake.



Pelo sim pelo não encontramo-nos por aqui um dia destes para um café, para trocarmos umas palavrinhas sobre o assunto





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