fevereiro 24, 2013

a cruz e a cigarreira breve



Se as nuvens que vão no céu/ fossem saudades perdidas / haviam de levar longe / as horas aqui vividas. Joaquim Paço d’ Arcos.

 Naquela época eu nem sabia bem quem era Joaquim Paço d’ Arcos, nem hoje, diga-se de passagem.Nem isto me  fazia lembrar guitarras de Coimbra. Muito menos  podia adivinhar que iria acordar, muitos anos depois, com estes versos na cabeça e a lembrança da letra bem desenhada a tinta permanente azul. 

 Tinha sido o nosso ensaiador a distribuir-me Alexandre Herculano, amo-te oh, cruz no vértice divino e a quem eu tinha convencido a trocar por o menino de sua mãe,  a cigarreira breve, já morto e arrefece  . Ambos os poemas, soberbos , e  que ele sabia que qualquer uma de nós podia levar a bom porto. A Guida,  no seu tom mais declamatório exuberante, no empenho que punha em tudo, e eu, mais pivetezinho mas convincente. Logo esta, o ar bem educado de quem não parte um pratinho , a ter a lata de lhe dizer que não gostava d’ a cruz e ele a deixar. Ele com aqueles olhos azuis a organizar a troca com a minha amiga que disse admiravelmente bem o Alexandre Herculano e a deixar-me a mim, premonição , a dizer o poema  que mais me tocava.

  Um homem de olhos azuis, que me ofereceu uma quadra de Joaquim Paço d' Arcos (?) num papelinho amarrotado e que guardo algures desde os dez anos.Isto fará parte daquelas coisas que mais ninguém lerá, um dia destes, nem os netos, nem os sobrinhos netos.

O homem de olhos muito azuis, mais dez ou vinte anos que nós, quem sabe se terá também ele deixado esquecida alguma breve cigarreira, nalguma picada das guerras coloniais, nalgum plaino abandonado, não faço ideia.
 

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