Em
primeiro lugar devo dizer que seria pouco provável que me propusesse ler este
livro, com uma capa que remete para universos que não frequento, de romantismos
de revistas de telenovela. Preconceito, dirão.
A
verdade é que o invólucro conta, o livro é um todo, por vezes um lindíssimo
objecto , outras, não . Há capas que afastam de imediato certo tipo de leitor,
o tipo que detesta que lhe digam é pró
menino ou prá menina, no caso.
A estas escolhas provavelmente presidem razões de mercado, que colocam nas prioridades
do editor vender a um mais vasto grupo de leitores, o que no contexto actual até
pode ser entendível. Pela mesma razão que leva alguns a cheirar a fruta antes de a comer, vale a pena ler umas páginas antes de nos
decidirmos pela leitura.
Este romance faz parte das escolhas para o festival de Chamberry. A edição não está como algumas que nos têm vindo
parar às mãos, onde se nota a falta de rigor da revisão de texto, ou a
inexistência de um editor que seja capaz de acompanhar o autor num dos seus
principais objectivos – que a mensagem chegue ao seu destino, o leitor.
Não é nada fácil avaliar um primeiro romance , muitas vezes sou tentada a aplicar o que ouvi durante anos , uma espécie de mote de reuniões de professores- deve continuar, será isto um incentivo ,o benefício da dúvida, ou esta frase pode matar?
O
mérito é todo seu,cara amiga, o ter concebido esta história `a século dezanove, que me
consegue enredar em memórias dos meus doze anos. Memórias de Luísa Alcot,
Mulherzinhas, Vinte Anos Depois, da
infindável colecção Brigitte de Berthe Bernage, aquilo que grande parte das
rapariguinhas lia no velho e caduco Portugal.
Nos anos sessenta vivíamos nós , aqui, segundo os padrões da sua
história do século dezanove, o que muita gente não concebe. As adolescentes
desse tempo, a quem as mães davam conselhos do género dos das suas madres, sonhavam com o tipo de amor
romântico de Alma Rebelde , aonde nem um príncipe encantado falta. É claro que
esse ideal de amor romântico era rapidamente abalado pela natureza, dependente ,
na vida real das rapariguinhas, do tempo de maturação do seu sistema endócrino
, ou o que seja.
É
que as verdadeiras madres que sofriam
na carne celibatos forçados dedicados a deus ,
não se esqueciam de nos prevenir .Várias vezes as ouvi dizer que se
tivessem imaginado o que as esperava se
teriam casado, abençoadas madres.
As
mães e avós nem nos falavam de sexo, nem sequer mencionavam o calor ao fim da barriga a que a
querida amiga se refere.Segredavam histórias de terror, de mulheres
que por se terem portado mal tinham
sofrido consequências funestas, até tinham sido obrigadas a casar, veja bem.
Esta
história , quase sem pecado, não aconselho a que a ofereçam no natal às vossas
filhas de doze ou catorze anos. É
precisa alguma maturidade para a não considerar ridícula, mas ternurenta .
Sobretudo se for lida na cama e a chuva cair lá fora. É que o amor existe mesmo
e às vezes só se acredita aos sessentas .
Agradecida pela sua opinião.
ResponderEliminarQuanto às capas, á como diz, são muitas vezes escolhas de mercado que as determinam. Felizmente não a impediu de ler e desfrutar do livro.