dezembro 10, 2012

carla soares, alma rebelde e capas

Em primeiro lugar devo dizer que seria pouco provável que me propusesse ler este livro, com uma capa que remete para universos que não frequento, de romantismos de revistas de telenovela. Preconceito, dirão. 

A verdade é que o invólucro conta, o livro é um todo, por vezes um lindíssimo objecto , outras, não . Há capas que afastam de imediato certo tipo de leitor, o tipo que detesta que lhe digam é  pró menino ou p menina, no caso. A estas escolhas provavelmente  presidem razões de mercado, que colocam nas prioridades do editor vender a um mais vasto grupo de leitores, o que no contexto actual até pode ser entendível. Pela mesma razão que leva alguns a cheirar a  fruta antes de a comer,  vale a pena ler umas páginas antes de nos decidirmos pela leitura. 

Este romance faz parte das escolhas para o festival de Chamberry. A edição não está como algumas que nos têm vindo parar às mãos, onde se nota a falta de rigor da revisão de texto, ou a inexistência de um editor que seja capaz de acompanhar o autor num dos seus principais objectivos – que a mensagem chegue ao seu destino, o leitor.

Não é nada fácil avaliar um primeiro romance , muitas vezes sou tentada a aplicar o que ouvi durante anos , uma espécie de mote de reuniões de professores- deve continuar, será isto um incentivo ,o benefício da dúvida, ou esta frase pode matar? 

 

O mérito é todo seu,cara amiga, o ter concebido esta história `a século dezanove, que me consegue enredar em memórias dos meus doze anos. Memórias de Luísa Alcot, Mulherzinhas, Vinte Anos Depois,  da infindável colecção  Brigitte de Berthe Bernage, aquilo que grande parte das rapariguinhas lia no velho e caduco Portugal.

Nos anos sessenta vivíamos nós , aqui, segundo os padrões da sua história do século dezanove, o que muita gente não concebe. As adolescentes desse tempo, a quem as mães davam conselhos do género dos das suas madres, sonhavam com o tipo de amor romântico de Alma Rebelde , aonde nem um príncipe encantado falta. É claro que esse ideal de amor romântico era rapidamente abalado pela natureza, dependente , na vida real das rapariguinhas, do tempo de maturação do seu sistema endócrino , ou o que seja.
É que as verdadeiras madres que sofriam na carne celibatos forçados dedicados a deus ,  não se esqueciam de nos prevenir .Várias vezes as ouvi dizer que se tivessem imaginado o que as esperava  se teriam casado, abençoadas madres.
As mães e avós nem nos falavam de sexo, nem sequer mencionavam o calor ao fim da barriga a que a querida amiga se refere.Segredavam histórias de terror, de mulheres que por se terem portado mal tinham sofrido consequências funestas, até tinham sido obrigadas a casar, veja bem.
 
Esta história , quase sem pecado, não  aconselho a que a ofereçam no natal às vossas filhas  de doze ou catorze anos. É precisa alguma maturidade para a não considerar ridícula, mas ternurenta . Sobretudo se for lida na cama e a chuva cair lá fora. É que o amor existe mesmo e às vezes só se acredita aos sessentas . 

1 comentário:

  1. Agradecida pela sua opinião.

    Quanto às capas, á como diz, são muitas vezes escolhas de mercado que as determinam. Felizmente não a impediu de ler e desfrutar do livro.

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