novembro 14, 2012

luís francisco, a vida dói








Uma escrita violenta à medida do absurdo das nossas vidas – um realismo sem nenhuma tolerância para com as convenções, a imagem social, o fingimento, o cinismo, a paz podre que atapeta as casas de muito antro familiar e lá se instala. 

Nem vale a pena sequer fingir que temos esperança, que temos uma vida, … o azar estatístico de nascer português, uma porra de país em que parece que as coisas funcionaram e afinal não,… jantares de merda a custar os olhos da cara, gajas e futebol,… e ninguém pode viver disto, desta romaria maquinal a bares e restaurantes. Pessimista?

Serenidade, como alguém refere, nem sempre, digo eu. Muito menos em certos lobbies da cultura, parece que os estamos a ver – uns, … enciclopédia de sensibilidade artística… outros, …para lhes regarem o ego.…havia de aproveitar para os mandar à merda.

  Poderosas, as palavras de machos muito machos…a bexiga das mulheres deve ter sido feita na mesma fábrica de pigmeus onde lhes montaram o cérebro…

Mas a cada leitor seu sentimento. Segundo o autor, há até quem tenha atribuído a estas personagens o epíteto de disfuncionais.

Se bem que concorde com os que encontram na narrativa uma diferença de tom a partir de determinado ponto – a que alguns podem chamar serenidade, cá eu leio outra coisa, provavelmente tão longe da verdade como qualquer outra, que nestas coisas é só a gente a falar, que nem sequer, ou ainda menos o autor saberá o que a alma lhe ditou.
Leio certa suavidade, a raiva do início a adormecer para o final da narrativa, tenho a ilusão de ter lido uma razão maternal. Não se ponham com gritos de que já cá faltava esta, pois Freud explica, e o amor de mãe blá, blá, blá. É que Lena e Joana se podiam chamar esperança e até Pedro imagina – Sinto que cheguei a bom porto. Mas nada é certo, que a narrativa se abre, tal qual a vida que passa por aqui, uma roda-viva.

 O leitor a ler à sua maneira. Vale, digo eu, à nuestros hermanos.

O que gostaria de ter sugerido ao autor – Fale-nos da sua mãe. Ou das mães da sua vida. Podia ter aproveitado a breve referência que fez, mas achei que não devia insistir – Aprofunde lá isso, Sr. autor.

 Não conhecia o Luís Francisco. É sempre um risco que pode não compensar, conhecer a pessoa que o autor é, ou mostra em público. Todos somos muita coisa e iludimos muito de nós, para o pior ou para o melhor. Não acontece com este homem de valores que vão rareando e, como disse a Rosa , transparente. Alguém que é capaz de admitir que chora, com lágrimas e tudo.

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