Quem
nasce à beira - mar tem o mundo maior, o horizonte plano e infinito, logo ali.
Ponham-se
no nosso lugar – este sol, o mar ao fundo, todos os caminhos para o infinito,
todas as respostas para todas as perguntas. Se Ulisses lhes resistiu, foi só
porque estava de passagem e tinha um grande amor à espera. É que nós vivemos com
o infinito, o próprio deus vive connosco, na sua força brutal e desconhecida,
nem bom nem mau, apenas deus. Um deus à nossa imagem e semelhança.
O que
é isto comparado com as vossas montanhas de neve, as vossas cavernas escuras
aonde há muito pouco tempo aprenderam a acender clareiras de luz para paredes
húmidas de reflexos de negrume. Será aí o Hades? Esquecidos os velhos deuses,
acabam dominados por divindades castigadoras do prazer e do pecado.
Nós
temos tudo. Todas as portas abertas para a praia. A vontade de infinito nos
passos infantis, no balançar do ventre das nossas mães. O mar chama-nos todos
os dias, numa sedução de cheiros, de sons, de águas que ora brincam ora nos
amedrontam.
Partir,
sentir. Se ele me chama, por que não ir, por que recusar o convite desses seres
de água, que dançam para nós sob sete véus translúcidos de cores que queremos
conhecer. Não se resiste ao grito do mar, aos ribombares das marés vivas, à
doce fala da onda pequenina a lamber-nos os pés.
Vocês
têm belos músicos, filósofos, enormes poetas – je poetischer, je wahrer, quanto mais poético mais verdadeiro, Novalis
– bons contabilistas, organizadores das mentes e das vidas.
Nós
queremos é partir, ir pelos caminhos do infinito, somos quase todos poetas.
Também encontro sempre esse mar nas pulsões mais autênticas e antigas deste povo, destes povos cantados. Muito mais do que o confronto das diferenças, importa a complementaridade com os pares do norte e do centro, que definitivamente têm encontrado o revestimento dos nosso substrato de poetas e viajantes. Este espaço único e fundamental que chamamos de Europa, centro antropológico e cultural do mundo, sempre e desde que abraçámos a razão, fez-se e só se poderá refazer das calamidades dos nossos dias,na relação da complementaridade e da solidariedade entre o norte e sul, sob pena de cedermos o nosso protagonismo ancestral e nuclear a outros actores.Há defensores da tese do não interessa quem, mas importa e muito, basta olhar para os modos de vida de outras paragens mais a oriente, para se perceber a importância de se continuar o papel referencial da Europa no mundo.
ResponderEliminarViking latino